Breve Artigo Teológico.
TEOLOGIA DA "PROSPERIDADE".
Separados, teologia e prosperidade são dois conceitos distintos e bastante amplos para se analisar. Porém unidos se tornam um dos mais recentes e conhecidos argumentos teológicos da atualidade para justificar a prosperidade financeira da igreja e de seus líderes. A Teologia da Prosperidade surgiu no século XIX nos EUA e se popularizou na metade do século XX com o Pr. Kenneth Hagin que fez uso de diferentes meios de comunicação para divulgar essa ideia teológica e inclusive fundou uma escola de formação de líderes chamada “RHEMA Bible Training Center” em 1974 na qual já formou milhares de líderes que se espalharam pelo mundo. No Brasil um dos pioneiros dessa teologia foi o Pr. Edir Macedo líder da Igreja Universal do Reino de Deus o qual também foi responsável pelo treinamento de centenas de pastores adeptos desse movimento entre eles estão o Pr. Romildo Ribeiro Soares conhecido como (RR. Soares) e o bispo Valdomiro Santiago ambos líderes de denominações pentecostais e que se tornaram homens muito prósperos financeiramente a partir das doações feitas por seus fiéis. Mas afinal existe base bíblica para a teologia da prosperidade? Muitos são os textos bíblicos usados para tentar fundamentar essa ideia teológica, porém sempre os textos são estudados fora de seu contexto se tornando um pretexto para justificar esse “dogma” pentecostal. Para não tornar o artigo muito longo separei apenas dois textos bíblicos, um do Antigo e outro do Novo Testamento que são usados com frequência para tentar embasar a teologia da prosperidade.
O primeiro texto diz: "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, até que não haja mais lugar para a recolherdes"
(Malaquias 3.10)
O profeta Malaquias foi contemporâneo de Neemias aquele que liderou a reconstrução dos muros de Jerusalém (século 5 a.C). O termo Casa do Tesouro do hebraico (אֹוצָר / ʼôwtsâ) também podendo ser traduzida como “casa do depósito” se refere ao Templo que na época além de servir como um lugar sagrado para oferecer os sacrifícios e receber as orientações de Deus, tinha também como uma de suas principais funções ser um lugar onde eram armazenados mantimentos e outros recursos para o auxílio do povo necessitado que ainda estava retornando do cativeiro para ajudar a reconstruir Jerusalém. Posteriormente veio a se tornar lugar exclusivo de adoração. Portanto nesse contexto o profeta Malaquias faz um chamado coletivo ao povo fragilizado e um tanto incrédulo para se unirem através da fé afim de devolver uma décima parte de suas plantações e rendimentos para o fortalecimento do templo e da comunidade. Ou seja, o esforço coletivo do povo em armazenar recursos no templo traria também um retorno coletivo onde todos os necessitados seriam beneficiados ao usufruírem. E não somente os sacerdotes. Portanto o papel dos dízimos não é enriquecer o pastor, mas auxiliar todo o corpo da igreja em suas necessidades. Malaquias faz um apelo pela devolução do dízimo em um contexto de extrema necessidade em que estava em jogo a reconstrução de Jerusalém. Hoje infelizmente o dízimo e ofertas tem sido exigido em um contexto de ostentação de igrejas e pastores. O propósito do dízimo ou ofertas não é financiar jatinhos ou carros de luxo, mas alimentar o povo com alimento material e espiritual. O texto mostra que assim como a ação era coletiva, assim também coletiva seriam as bençãos e por consequência a prosperidade do povo... “diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma benção tal, até que não haja mais lugar para recolherdes”. (Até que não houvesse mais espaço no Templo para recolher todos os recursos e mantimentos). A idea de properidade no texto tem a ver com o desevolvimento da comunidade e seu fortacimento através de um sistema de colaboração por meio dos dízimos e ofertas de alimentos e vestimenta a todos os necessitados. Esse princípio de prosperidade estabelecido por Deus persisti até hoje na cultura judaica, por meio de comunidades chamadas "Kibutz". Essas comunidades são prosperas e tem sido um modelo de sociedade ideal a muito anos. E o texto ainda mostra que o resultado da reorganização do povo, da reconstrução de Jerusalém e o restabelecimento da dignidade dos cativos foi o reavivamento espiritual que veio tornar Israel o centro da fé novamente (Lucas 2.41).
O segundo texto diz: “Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham.33 Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles.34 Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda35 e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um”. (Atos 4.32-35)
O contexto do segundo texto bíblico semelhante ao primeiro de Malaquias retrata novamente a condição de fragilidade do povo de Deus, agora gerada pela morte de Jesus. Sob a orientação do Espirito Santo o povo é inspirado a agir coletivamente por meio da fé e o resultado são as necessidades materiais e espirituais do povo atendidas. Perceba que a ausência de necessitados entre eles “...Não havia pessoas necessitadas entre eles...” (At 4.34) não estava associada a prosperidade financeira de cada indivíduo, mas a comunhão ou partilha de bens entre todos. Esse ato de extrema união veio possibilitar uma benção maior que ficou conhecida como Pentecostes.
Todas as semelhanças entre Malaquias e Atos não é mera coincidência. Ao longo de todo o relato bíblico desde Gêneses a Apocalipse existe dois princípios em comum em todas as bençãos de Deus.
Primeiro princípio; as bençãos de Deus sobre cada indivíduo é sempre para abençoar o coletivo.
Muitas pessoas passam a vida orando e clamando a Deus para torna-las prosperas financeiramente. Sua ganancia é fruto de um coração egoísta que deseja apenas acumular bens para ostentação própria. E por tanto acabam não tendo seu pedido atendido porquê de acordo com o livro de (Tiago 4.3) “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos próprios deleites".
Segundo princípio; as bençãos de Deus vêm para atender diferentes necessidades, mas sua principal finalidade é fortalecer a fé (a vida espiritual das pessoas).
No livro de (Mateus 19.16-23) se encontra o relato do jovem rico que se aproxima de Jesus para questiona-lo sobre a vida eterna. Jesus percebendo que se tratava de alguém que era prospero financeiramente e estava apegado à sua riqueza, pediu para que doasse o que tinha e distribui-se aos pobres e em seguida pediu para que o seguisse. O propósito de Jesus era mostrar a todos que a verdadeira prosperidade do cristão é ter ao longo de sua trajetóriade vida a presença do Dele em sua vida. Ao ajudá-lo a se desprender das coisas materiais, Jesus queria torna-lo rico das coisas espirituais. Ao compartilhar de sua riqueza com os necessitados o maior beneficiado seria ele mesmo. Pois tal ato de amor fortaleceria sua fé, sua confiança em Deus e na salvação. Porém diante da possibilidade de abrir mão de toda sua riqueza o jovem recuou em sua busca espiritual pela vida eterna. Então Jesus concluiu dizendo; “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt19.24).
Portanto associar as bençãos de Deus unicamente a prosperidade financeira seria definitivamente um erro teológico absurdo.
Por outro lado a Bíblia não condena a riqueza, mas os perigos da ganância e avareza na vida do cristão.
Poderia analisar outros textos usados para embasar a teologia da prosperidade, mas tornaria muito longo esse artigo. Porém todos os outros textos levariam a mesma conclusão quando estudados dentro de seu contexto. O que fica claro é que a verdadeira prosperidade da qual Jesus tem interesse na sua vida é a prosperidade espiritual que leva a vida eterna. Sendo rico ou pobre o mais importe na vida do cristão é “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas” (Mateus 6.33).
Pedido de Oração: Há muito tempo venho sendo atacado por me posicionar contra o envolvimento das igrejas com o bolsonarismo, porém os ataques se intensificaram após publicar o artigo "discípulos do amor ou do ódio?" Após sua grande repercussão passei a ser alvo de ataques muito cruéis feitos por meio de FAKE NEWS com o objetivo de destruir minha imagem e incitar ódio contra mim. Por favor intercedam por mim e minha família em oração. A minha gratidão! Lembre-se o diabo é o pai da mentira (João 8.44) e ele odeia a verdade (João 8.32).
Autor. Moreno Alves
Bacharel em Teologia (UNASP-EC)
Universidade Adventista de São Paulo
(Ref. “Mensagem de Atos” John Stott), (Ref. “Teologia da Prosperidade” Gabriel Lourival Maurilio), ( Ref. “Comentário Histórico Cultural da Bíblia, John H. Walton), (Ref. "Bíblia Interlinear de Strong") etc...
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