terça-feira, 28 de julho de 2020

Caso IURD: Conselho das Igrejas Cristãs em Angola condena atitude de Edir Macedo



André Sibi

28 de Julho, 2020

O Conselho das Igrejas Cristãs em Angola (CICA) condenou a atitude do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, de amaldiçoar os bispos, pastores e respectivas famílias da ala reformadora da igreja em Angola.A reverenda Deolinda Dorcas Teca disse que “não é tarefa de homem nenhum amaldiçoar os outros, antes pelo contrário temos a ordem de abençoar”,
Fotografia: DR



Em entrevista ao Jornal de Angola, a secretária-geral do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola, reverenda Deolinda Dorcas Teca, considerou os pronunciamentos do bispo Edir Macedo, que amaldiçoou os bispos, pastores, esposas descendentes e o povo em geral como uma atitude que demonstra sentimento de perda de bens materiais e financeiros, que o país garantia à Igreja Universal do Reino de Deus.

A reverenda Deolinda Dorcas Teca disse que “não é nossa responsabilidade amaldiçoar o outro”, pois - acrescentou -o livro de Ro-manos no seu Capítulo 12 versículo 14 recomenda o seguinte:"abençoai aos que vos perseguem e não amaldiçoeis”.

Está claro!É bíblico - disse. Segundo a secretária-geral do CICA, “não é tarefa de homem nenhum amaldiçoar os outros, antes pelo contrário temos a ordem de abençoar”, assegurou.

Quanto aos pastores angolanos, suas esposas e descendentes, bem como os angolanos em geral que o líder da Igreja Universal do Reino de Deus amaldiçoou, a secretária-geral do CICA confortou-os a partir dos textos de Romanos Capítulo 8 versículo 1, tendo refe-rido:"Portanto, agora nenhu-ma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

“Ninguém tem poder de nos condenar, sobretudo aqueles que crêem e vivem a sua (de Deus) palavra”, sublinhou. Para a líder do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola, com esta afirmação o bispo Edir Macedo saiu-se muito mal na fotografia, lamentavelmente. "Ele deveria dominar um pouquinho mais as suas emoções, pois, transpareceu estar muito sentido com a perca material e financeira que o país fornecia ao Brasil.

Não deveria ser assim. Deveria, pelo contrário, compreender as causas do conflito e dialogar com as partes envolvidas”, realçou. A reverenda aconselhou a igreja a encontrar um mediador neutro e consensual, para os ajudar a ultrapassar o conflito que os separa do ponto de vista eclesiástico. No entanto,as questões jurídicas devem ser tratadas junto dos tribunais competentes, recomendou.

Deolinda Dorcas definiu a igreja como “o conjunto de pessoas que acreditam em Deus e no Senhor Jesus Cristo como Senhor e Salvador”. A sua gestão - realçou - deve depender, em primeiro lugar, da acção do Espírito Santo, seguido dos homens a quem Deus chama para esta nobre missão, que são os bispos, padres, pastores, diáconos, e outros auxiliares do ministério, bem como o santo povo de Deus.

A reverenda reforçou que a primeira missão de uma congregação religiosa passa por ajudar a população a conhecer a palavra de Deus: arrependimento, amor, a vida, humildade, honestidade e ensiná-la a viver segundo a vontade de Deus, traduzido numa nova criatura. "Os líderes devem ser os primeiros a viver esta realidade e de seguida ajudar o povo a seguir o seu exemplo, pois quem acredita no nosso Senhor Jesus Cristo deve viver os frutos do Espírito Santo, indica o livro de Gálatas capítulo 5 versículos 21-22", disse.

Actualmente o CICA conta apenas com 20 Igrejas e duas organizações baseadas na fé, inscritas no Conselho das Igrejas Cristãs em Angola.
"A Igreja Universal do Reino de Deus ainda não é membro do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola, embora participe de algumas actividades ecuménicas quando convidada”, esclareceu.

Reforma é obra de todos os dias

Questionada sobre a reforma exigida pelos pastores angolanos em relação às práticas da vasectomia, racismo, evasão de divisas e privação da formação, bem como o afastamento em relação à família alargada, a reverenda recorreu ao pensamento do im-pulsionador da reforma protestante dos séculos XVI e XVII, o filósofo João Calvino, para acentuar que a "refor-ma de uma Igreja é um processo". A cada dia que passa, toda igreja deve ser reformada - defendeu.

"Se hoje os angolanos pertencentes à Igreja Universal do Reino de Deus em Angola pensam em reformar, eu creio que é o melhor caminho, pois existem tradições, culturas e actos que, a ser verdade, não condizem com os princípios de uma igreja cristã" Para a secretária-geral do CICA, a reforma é um pensamento louvável, pois “o fundamental para uma igreja cristã é obedecer às Leis de Deus, e isto foi dito a Josué, a Moisés e a tantos outros".

"Eles precisam de fazer uma análise profunda e sucinta sobre os aspectos da fecundidade, corrupção, racismo e de tantos outros males que enfermam a igreja nesta altura", disse. Apelou à ala angolana assim como à ala brasileira ao diálogo.

As partes devem sentar-se e olhar para as causas profundas, se possível convidar outras instituições como mediadoras, para os ajudar a ver a árvore do conflito e construir o caminho do consenso, pois esta confusão não dignifica a igreja, os bispos, pastores e esposas, tão pouco os fiéis. A responsável entende que o diferendo na Igreja Universal do Reino de Deus não pode colocar em causa as boas relações de irmandade existente entre os dois países, pois, enfatizou, o Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola.

Adeus à paternidade

AgostinhoJamba é pastor regional da IURD em Angola no Rocha Pinto e conta que a igreja não exigiu de si a vasectomia, no entanto, obedece aos requisitos para se casar. “Falo sobre isso com muita tristeza, porque vi a igreja a apoiar-se em factos sem relevância, para expulsar os meus colegas da obra, o facto de não aceitarem este procedimento. Eu fiz a vasectomia”, declarou o pastor com o semblante totalmente carregado de tristeza.

Agostinho Jamba afirma que a igreja não lhe obrigou a fazer a vasectomia, mas conta que“a forma estratégica como o assunto era abordado nos meandros da igreja, toca a sensibilidade do pastor, sobretudo aqueles que entram para a obra com menor idade e são proibidos de interagir regularmemte com a família”.

“Temos muitos pastores antigos que não se casam até à presente data, por não terem aceite submeter-se ao procedimento. Outros, apesar do seu potencial, foram obrigados a abandonar a obra por não aceitarem”, confessou. A adesão à vasectomia consta entre os factores que determinam, em grande medida, a progressão da carreira do pastor na igreja.

Agostinho Jamba conta que, depois de tanta pressão psicológica, ele e um grupo de cinco pastores apresentaram-se à direcção da igreja, que rapidamente criou as condições de viagem para a África do Sul. Segundo contou, de Angola para a África do Sul a viagem durou aproximadamente três horas. Durante o voo, entre o entusiasmo e a angústia pela decisão tomada, a vontade de pregar o evangelho de Cristo até aos confins da terra falava mais alto.

Chegaram a África do Sul no final de uma tarde de pôr do sol. Ligeiramente mais frio que Angola, o pregador da palavra de Cristo contou ao Jornal de Angola que não se lembra do que terá jantado nesse dia, pois faltavam poucas horas para tomar uma das decisões mais difíceis da sua vida: anular a probabilidade de ser pai pelo resto da vida.

O facto de ter sido uma decisão concertada com a esposa, aliviou em parte o desconforto, medo, ansiedade e o desespero de quem vai entrar para um bloco operatório sem estar doente. As cirurgias são feitas em regime de jejum, por isso, depois da higiene pessoal, às primeiras horas do dia, seguiram rumo para uma das clínicas luxuosas da África do Sul.

Segundo contou, os procedimentos começam com uma consulta básica. Entre outras perguntas, o cirurgião procura saber do paciente se já fez uma cirurgia. De seguida é avaliada para minutos depois, ser conduzido ao bloco operatório para a cirurgia. No bloco operatório devidamente iluminado, encontras homens e mulheres, devidamente equipados, para executar a acção, que prossegue com uma anestesia geral, para neutralizar totalmente o pa-ciente, de modo a não dar conta do recado.

"Você apaga totalmente enquanto os médicos fazem o trabalho”, conta o pastor. Na verdade, um trabalho que neutraliza para sempre a veia que transporta o líquido masculino para a zona de produção feminina, colocando ponto final à orientação "ide ao mundo, multiplicai-vos e enchei a terra".
Depois da cirurgia a recuperação é rápida para uns e difícil para outros, o que não foi o seu caso, pois, regressou a Angola no dia seguinte. Uma semana depois, retomou ao púlpito para pregar o evangelho sem qualquer “impedimento paternal”.

O seu percurso pastoral mostra que integrou a igreja muito cedo. Inicialmente no grupo jovem, onde foi levantado obreiro. De seguida submetido a um teste que o elevou para obreiro. Aos 19 anos de idade ascende a pastor da comunidade localizada junto a praça do Catinton, no Rocha Pinto, em Luanda.

Uma trajectória que prosseguiu por várias templos, até se tornar grande pregador, no entanto, vetado de deixar descendência pelo resto da vida, apesar de ter esposa e ser um homem bem casado.

Reformas são necessárias

Agostinho Jamba considera necessárias as reformas que estão a ser exigidas pelos angolanos, porque entende que a igreja de Cristo perdeu a sua essência e a mudança de paradigma é o único caminho.

Conta que a palavra de Deus chama aqueles que estão casados e oprimidos, para que Jesus os possa aliviar. “Aqui dentro o fardo não é leve, mas sim muito pesado, por isso estamos a clamar pela reforma, nos entendam por favor”, roga o jovem pregador.

Pressão

A igreja exerce muita pressão sobre os pastores. Conta que todas as segundas-feiras, por exemplo, recebe uma mensagem do Maculusso, que orienta o pastor a entregar aos fiéis envelopes de prosperidade, pois é o dia consagrado à vida financeira. Às terças são orientados a entregar os envelopes para protecção da saúde dos fiéis.

Descarta-se a quarta, mas na quinta-feira vem a mensagem da central para actuar com os envelopes da vida conjugal, na sexta-feira os envelopes pela libertação das almas, sábado idem, pelas causas impossíveis e no domingo o rescaldo de todos os en-velopes entregues ao povo ao longo da semana, o que nos deixa completamente constrangidos, desabafou.

“Com estas atitudes a igreja tornou-se excessivamente materialista, em detrimento da sua verdadeira missão, e estamos proibidos de questionar” - lamentou o prelado. Quando a comunidade religiosa está localizada na periferia, o dinheiro arrecadado não pode passar a noite no templo, mas sim encaminhado no mesmo dia para o responsável imediato.

Os pastores estão proibidos de executar qualquer obra de benfeitoria na periferia, mesmo que o pastor auxiliar e mem-bro estejam a usar infra-estruturas degradadas, no entanto, quando informamos as necessidades locais dificilmente são respondidas.

O drama de ser esposa de um pastor na IURD

Domingas Paulo, esposa de pastor há onze anos, conta que abraçou a IURD aos nove anos de idade. O momento mais triste porque passou na Igreja Universal do Reino de Deus foi depois de ter ficado grávida do seu primeiro e único filho, hoje com cinco anos de idade. Domingas Paulo contou que depois de quatro meses de gravidez com o seu próprio esposo, a igreja, ao aperceber-se, instituiu um castigo que obrigou a transferência do casal para a província de Benguela.

Tratando-se do primeiro parto, convidou a mãe para que fosse cuidar dela. Tão logo o pastor regional se apercebeu da presença da mãe na residência da filha, ordenou a sua expulsão, pois os pais não são bem vindos à residência dos filhos quando se tornam pastores na Igreja Universal do Reino de Deus.
“Fui obrigada a arrendar um quarto para ficar com a minha mãe porque precisava dos seus cuidados, pelo facto de ser o meu primeiro parto”, revelou.

Vasectomia

A também obreira contou que, depois desta humilhação, o casal decidiu aderir ao procedimento da vasectomia, realizada na República da África do Sul, para que o esposo nunca mais voltasse a engravidá-la, sob pena de repetir o castigo. Para tristeza do casal, o ano passado, o esposo, na ânsia de elevar o nível de fé dos membros, porque se tratava de uma prática rotineira da igreja, orientou uma peregrinação aos montes do Morro dos Veados, em Luanda.

Tão logo o bispo Honorilton Gonçalves se apercebeu, ordenou a sua expulsão e actualmente sobrevive dos favores dos cunhados. “Vivíamos na Igreja do bairro Mundial no Benfica e de seguida fomos transferidos para a catedral do Maculusso, onde cumprimos a sentença, de ficar de pé no salão o dia todo, sem comer, sentar-se e tão pouco beber água, até que um dia declaramos que não aguentávamos mais e colocamos fim à nossa trajetória religiosa. Abandonamos a obra de Deus” - relatou.

Domingas conta que foram afastados o ano passado. Nesta altura, conta com lágrimas nos olhos, estamos a residir num quarto arrendado pelos nossos irmãos, que nos sustentam igualmente com alimentação. Esperamos que o povo nos entenda, pois chegou a hora de dizer basta!, e que precisamos de ser respeitados e ter liberdade de viver como verdadeiros servos de Deus, sem razões para tanto fardo.

Ânsia de dinheiro

Já Regina Félix, esposa do pastor Domingos Daniel do Rosário, disse ao Jornal de Angola que a Igreja Universal é uma grande escola, no entanto a ânsia pelo dinheiro nesta grande casa de Deus está a levar e vai levar muitas almas à perdição. Segundo contou, integrou as fileiras da Igreja Universal do Reino de Deus aos 12 anos de idade. Ao ser convocado para o procedimento, o seu esposo resistiu à tentação da cirurgia.

No dia seguinte, o casal foi convidado a entregar os documentos e em duas semanas foram tratados sem a presença física do casal e de seguida enviados para São Tomé e Príncipe a 25 de Janeiro de 2016. Em São Tomé e Príncipe, o casal apresentou-se ao bispo Rangel, a quem explicaram o sucedido e alertaram sobre o estado de saúde do esposo.

"Avisei que estava com uma “sinusite” em estado avançado e que precisava fazer uma consulta com urgência”, conta Regina Félix. No segundo mês a situação agravou-se, pois São Tomé e Príncipe é uma ilha e a humidade, para quem sofre de sinusite, é uma sentença de morte. “Numa manhã de domingo, peguei a motorizada e a meio do caminho da igreja tive uma hemorragia nasal repentina.

O cenário causou pânico ao motoqueiro que me transportava e demais pessoas na igreja, pois tinha entrado para o interior do templo a sangrar nas narinas por causa da humidade”, afirmou. Segundo explicou, foi a partir daí que o bispo local acreditou que realmente estava doente e que precisava de intervenção médica profunda, que veio a ter lugar no Hospital Central de São Tomé, por uma semana, sem qualquer visita.

Regina Félix disse ao Jornal de Angola que não está contra a Igreja, mas sim contra os regulamentos internos, que “privam a interacção com os familiares, obrigam a vasectomia, que contraria completamente a minha cultura bakongo”. Ao aderir à manifestação dos pastores angolanos a 28 de Novembro de 2019, as consultas foram suspensas e nesta altura o ouvido já vai deitando pus, pois, não tem meios para se tratar.

Bispo Honorilton Gonçalves recusa qualquer negociação

A Igreja Universal em Angola liderada pelo bispo Honorilton Gonçalves “não vai negociar com os bispos e pastores angolanos, devido ao seu comportamento, desvio de conduta e carácter”. A informação foi avançada pela directora do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa, Ivone Teixeira.

Ivone Teixeira, que respondia ao questionário enviado pelo Jornal de Angola, em virtude dos acontecimentos na igreja, disse que “não existe qualquer previsão de diálogo orientado pelo bispo Edir Macedo para se ultrapassar a situação reinante em Angola, pois, estamos diante de comportamentos criminosos praticados por pastores angolanos, cujo processo judicial decorrem trâmites para o seu devido esclarecimento”.

“O bispo Edir Macedo não vai orientar qualquer vídeo conferência para ouvir as partes envolvidas no conflito aqui em Angola, porque os actos de calúnia, difamação, ataques racistas, invasão de templos, saques e tantos outros crimes cometidos pelos pastores angolanos devem ser tratados no fórum policial, pois são contrários aos preceitos da igreja”, disse.

A directora do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa e porta-voz da IURD em Luanda afirmou que “Deus não endureceu os corações dos seus líderes tal como Faraó no passado, pois estão confiantes na sua justiça”. Questionada em relação às exigências contidas no manifesto pastoral de 28 de Novembro, a responsável realçou que “não se vai ceder a qualquer exigência feita pelos pastores angolanos no manifesto e que vai se aguardar apenas pela restituição da legalidade”.

Quanto a informações postas a circular segundo as quais o bispo Honorilton Gonçalves “estaria a financiar obreiros angolanos e grupos de jovens para agredir os pastores e bispos angolanos, a responsável refutou e disse tratar-se de uma calúnia”. Para justificar os cortes dos subsídios quinzenais dos pastores angolanos efectuados pelo bispo Honorilton Gonçalves, sem aguardar por um pronuciamento do tribunal, disse tratar-se de um “acto meramente administrativo da instituição”.

“Os mesmos foram desligados por desvio de conduta e alguns por roubo, fraude, prostituição e adultério, condenados pela igreja”, disse.
A responsável aproveitou igualmente a ocasião para explicar que o seu líder não está a se desfazer dos templos arrendados na periferia, pois, estes nasceram para atender os mais necessitados, por isso não faz sentido tal decisão. Disse que dos 307 templos existentes no país, 90 estão sob controlo dos pastores angolanos.

Casamentos marcados para Novembro

Os pastores e obreiros angolanos da Igreja Universal do Reino de Deus que romperam o vínculo com o projecto religioso liderado pelo bispo brasileiro Edir Macedo, para dizer sim à nova versão denominada “Igreja Universal do Reino de Deus em Angola”, estão determinados a seguir o seu próprio caminho. Em declarações ao Jornal de Angola, a obreira Sílvia André, da catedral do “Alimenta Angola”, na Estalagem, município de Viana, em Luanda, disse que a comissão instaladora liderada pelo bispo Valente Bezerra já tem os casamentos marcados para o mês de Novembro.

“Depois de seis anos de privações por não aceitarmos a vasectomia, finalmente vamos nos casar e formar uma família feliz, tal como manda a palavra de Deus, que todos os dias ensinamos ao santo povo de Deus” - disse. Sílvia André explicou que integra um grupo de 15 esposas de pastores que rejeitaram a proposta de fazer vasectomia aos esposos, razão pela qual não foram colocados na lista de espera ao longo dos últimos seis anos.

Sílvia André contou à nossa reportagem que abandonou a sua profissão de enfermeira e o terceiro ano do curso superior de medicina para construir a vida ao lado do pastor Genésio Mauango, um direito que lhes foi negado nos últimos anos. Sílvia André pediu aos angolanos para que não olhem para os pastores angolanos que estão a reclamar os seus direitos como rebeldes, mas sim como pessoas que estão a lutar para uma igreja mais justa ao serviço dos angolanos e do mundo.

Já o seu esposo, pastor Genésio Mauango, que pensa recorrer à bíblia para encontrar o nome do primogénito, disse que nunca teve problemas com a “ala brasileira” até ser convocado pelo bispo Robson, na altura pastor, para fazer a vasectomia.

“Ao longo dos últimos 12 anos não tive qualquer problema na igreja, pois nunca me importei muito com o disse que não disse, por isso trabalhei em oito comunidades, com destaque para a Estalagem, Ecocampo, no Cacuaco, bairro Malueka, Camama, e actualmente como pastor titular na comunidade do bairro Cerâmica no Sambizanga.

Genésio Mauango disse que a chegada do bispo Honorilton Gonçalves, além de atiçar a vasectomia, foi marcado pelo corte do seguro de saúde dos pastores e esposas, afastamento de muitos pastores angolanos de reconhecida firmeza e força na obra, bem como pelo desvirtuar dos preceitos da palavra de Deus.

“Por estas e outras situações nasceu a revolta dos pastores angolanos, que foi se multiplicando até à apresentação do manifesto a 28 de Novembro de 2019, e teve o seu ponto mais alto a 22 de Junho”, disse. Já o pastor Eduine Paulo Teixeira, que completou 33 anos de idade, aguarda pelo casamento há nove anos, por não ter atendido às chantagens do consulado anterior.

“Subscrevo todas as reivindicações contidas no manifesto apresentado a 28 de Novembro, porque não é possível pregar a palavra de Deus para libertar os outros e o próprio pregador viver o inferno na terra” - atirou.

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