domingo, 4 de dezembro de 2022

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DO MOVIMENTO DE RESTAURAÇÃO DE STONE E CAMPBELL







O Início no Século XIX, A origem do nosso Movimento, que ficou conhecido desde o princípio como “A Reforma Presente” e só mais recentemente como “Movimento de Restauração” ou “Movimento Stone-Campbell”;aponta para o ano de 1801 quando milhares de pessoas estiveram reunidas entre os dias 06 e 12 de agosto no Acampamento de Reavivamento em Cane Ridge, liderado pelo avivalista Barton W. Stone (1772-1844) e outros pastores presbiterianos.
Aproximadamente 30 mil pessoas estiveram acampadas naquela ocasião e elas responderam às pregações com confissões, orações fervorosas, ações de graça, louvor a Deus, libertação, testemunhos, exortações ao arrependimento dos pecados e fé em Jesus como Senhor e Salvador. A Igreja Presbiteriana reagiu com muita firmeza, forçando Barton Stone e outros pastores a deixarem a igreja. Eles formaram o Presbitério Independente de Springfield e no dia 28 de junho de 1804 ele foi dissolvido para dar início a um movimento que tinha “o propósito unir todos os crentes em uma só igreja”. Esse avivamento deu origem à Igreja Cristã / Igreja de Cristo e seus membros gostavam de ser chamados unicamente de “cristãos”.

Também se volta para 1809, ano que o pastor Thomas Campbell (1763-1854) e outros presbiterianos criaram a Associação Cristã de Washington no dia 17 de agosto, publicaram a “Declaração e Discurso” e deram início a um movimento que buscava a unidade da igreja e a restauração do cristianismo primitivo. Logo depois de desembarcar nos EUA, Alexander Campbell (1788-1866) aderiu a eles e posteriormente assumiu a liderança do movimento. Um outro pioneiro foi Walter Scott (1796-1861), que com seu “exercício dos cinco dedos” (fé, arrependimento, batismo, remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo) forneceu uma ordem em que as pessoas poderiam vir a Cristo e se associar à igreja. Eles ficaram conhecidos como “Discípulos de Cristo”.

Unidade e Diversidade

Os movimentos de Stone e Campbell se unificaram no fim-de-semana do ano novo de 1832. Eles tinham objetivos comuns mas não eram iguais e a uniformidade nunca foi alcançada. Este fato levou Alexander Campbell, o nosso principal teólogo e organizador no século XIX, a fazer a seguinte declaração: “Nós temos entre nós toda a sorte de doutrinas pregadas por toda a sorte de homens”. Toda “essa diversidade tem nos enriquecido, mas ela também permite a possibilidade de intolerância e a divisão que infelizmente fizeram parte da nossa experiência”.

Um grande lutador contra o sectarismo em nosso meio foi Isaac Errett (1820-1888), autor do clássico “Nossa Posição – Uma Sinopse da Fé e da Prática da Igreja de Cristo”. A ele é atribuído o fato de ter impedido que o nosso movimento tivesse se transformado em uma seita que se reproduz por divisão de legalistas discordantes. É dele a seguinte declaração: “Que o laço de união entre os batizados seja o caráter cristão em vez da ortodoxia; o correto fazer em vez do correto pensar; e, ao tomar em conta os secos preceitos, que se reconheça a liberdade de cada um sem buscar impor limitações aos irmãos fora da imposição da lei do amor”. Como Errett rejeitamos o sectarismo, valorizamos a tolerância e buscamos a unidade cristã. Um dos nossos lemas, desde o início no século XIX, define o nosso posicionamento quanto a esse assunto: “No essencial, unidade; Nas opiniões, liberdade; Em todas as coisas, o amor”. E os mais antigos em nosso movimento quando eram perguntados se eram os únicos cristãos respondiam dizendo: “Não somos os únicos cristãos, mas somos unicamente cristãos”.

Crescimento e Organização

No início do século XX ultrapassamos o número de um milhão duzentos e cinqüenta mil membros. Com o crescimento vertiginoso veio a necessidade de organização. Alexander Campbell foi favorável à cooperação entre igrejas para levar adiante algumas atividades mais complexas. Então, David S. Burnet organizou a Sociedade Bíblica e a Sociedade da Escola Dominical e Tratados em 1845. A Primeira Convenção Nacional em 1849 determinou a formação da Sociedade Missionária Cristã Americana. E Isaac Errett e W. T. Moore, em 1875, lideraram a organização da Sociedade Cristã de Missões Forâneas.

Presença Internacional

Logo havia missões na Dinamarca, França, Índia, Inglaterra, Japão, Panamá e Turquia. Entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX as nossas Sociedades Missionárias estabeleceram Igrejas na Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Índia, África do Sul, Malawi, Tailândia, Zimbabwe, Vanuatu, Argentina, China, Congo, Cuba, Jamaica, México, Filipinas, Porto Rico e Tibet. Hoje há igrejas da nossa família da fé em 180 países e somos vários milhões de irmãos.

Uma Nascente e Três Rios

Todavia, por serem esforços humanos, os movimentos de “restauração” ou “reforma” da igreja não são perfeitos e o nosso não fugiu à regra. Alexander Campbell, por volta de 1840, percebeu que algumas das suas posições eram insustentáveis. Mais experiente e conciliador passou “a aceitar a unidade na diversidade pluralista e minimizar a necessidade de uma postura rígida pelo ideal restauracionista”. Essa mudança na teologia e na prática dos “Discípulos” apressou a sua divisão.

Em 1906 as Igrejas de Cristo (A Capella), o ramo radical do nosso Movimento, constituíram um corpo separado e estão continuamente se dividindo desde então. Entre a década de 1920 e 1968 uma outra divisão ocorreu quando o grupo mais liberal e ecumênico se reestruturou como a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo). Os “Discípulos” que não desejaram ser parte dessa nova denominação formaram a comunhão conhecida como Igreja Cristã / Igreja de Cristo (Discípulos independentes).

Estes últimos se tornaram o segundo grupo religioso que mais cresceu nos EUA no fim do século XX, atrás apenas dos Mórmons. Entre as igrejas evangélicas a Igreja Cristã / Igreja de Cristo obteve a maior taxa de crescimento anual (16% entre 1990 e 2000). Tudo isso é o resultado de uma forte ênfase no evangelismo e no treinamento dos ministros.

Baseado nas informações fornecidas pelo “Stone-Campbell Dialogue” no ano 2000, há nos EUA e Canadá mais de 3.242.000 irmãos, 22.376 igrejas locais, 28.349 ministros (inclusive capelães militares da ativa e reserva), 1.785 missionários, 109 Universidades, Faculdades, Seminários e Escolas de Treinamento de Pregadores (Ministros), 295 Campus Ministries, 282 instituições de benevolência e/ou assistência às crianças, famílias e idosos e 95 igrejas com membresia superior a 1.000.

Características das Igrejas do Nosso Movimento

Em meio a grande diversidade de igrejas em nossos dias, o que distingue as nossas igrejas? Quais são as suas marcas distintivas? “Não nos orgulhamos de ser distintos de outras igrejas bíblicas. Pelo contrário, no espírito da oração de Jesus (Jo 17:21) desejamos estar unidos com todos os demais em Cristo. A unidade é a nossa meta e não a divisão”. Mas, ainda assim, é possível identificar dez características principais:

1. Um grande interesse pela unidade cristã. Nosso movimento surgiu em uma época que as igrejas tendiam para o legalismo, o autoritarismo e o exclusivismo e desde o início é apaixonado pela unidade cristã;

2. Compromisso com o evangelismo e as missões. Isso é comprovado através da história do nosso movimento, seu rápido crescimento e o avanço missionário, que fez da nossa família na fé uma comunhão com presença internacional;

3. Ênfase na centralidade do Novo Testamento. A Bíblia Sagrada é a nossa máxima autoridade em matéria de fé, sendo que o Novo Testamento forma a base do nosso pensamento e ação cristã;

4. Confissão de fé simples. A confissão de fé afirmando o senhorio de Jesus Cristo é essencial e não se deve exigir nada mais para aceitar alguém na comunhão, pois a irmandade não pode ser condicionada a credos humanos;

5. Batismo dos crentes. Somente aqueles que chegam à idade de responsabilidade moral e que podem fazer sua confissão de fé devem ser batizados por imersão nas águas, segundo o ensino e a prática dos Apóstolos;

6. Comunhão semanal. Tradicionalmente celebramos a Ceia do Senhor semanalmente comemorando o ato redentor de Deus na pessoa de Cristo, mediante sua cruz e a ressurreição, afirmando a nossa unidade em Cristo e o nosso compromisso de levar o Evangelho a toda criatura;

7. Nome bíblico. Desde o início do nosso Movimento queremos ser conhecidos apenas como “Cristãos” ou “Discípulos”, “Igreja (ou as Igrejas) de Cristo ou Cristã (s)”;

8. Autonomia congregacional. Cada igreja local governa a si mesma e elege seus pastores e diáconos. Nossos Concílios e Convenções têm um caráter extremamente de comunhão e não têm nenhum poder deliberativo sobre as igrejas;

9. Liderança leiga. O sacerdócio universal de todos os crentes é outra marca que nos distingue. A participação leiga em todos os aspectos da vida da igreja é uma característica notável;

10. Diversidade e liberdade. Esta é a mais distintiva das nossas características: a unidade na diversidade! Reconhecemos a liberdade de pensamento de cada pessoa e congregação.

O Movimento no Brasil

No fim da década de 1920 houve uma primeira tentativa de estabelecer igrejas da nossa família na fé no Brasil. Três missionários foram enviados pelas igrejas “a capella”: Orlando Boyer, Virgil Smith e Bernard Johnson. Sem apoio, eles passaram por muitas privações e, logo após serem cheios com o Espírito Santo, se uniram às Assembléias de Deus. Virgil Smith, porém, depois de uma vida dedicada a esta igreja, terminou seus dias como membro da Igreja de Cristo em Brasília e professor de evangelismo na Faculdade Teológica Cristã do Brasil. Todavia, o Movimento de Restauração teve o seu primeiro esforço missionário bem-sucedido em nosso país a partir do dia 25 de março de 1948 com a chegada do Pr. David Sanders, o pioneiro do Movimento de Restauração em terras brasileiras, e sua esposa D. Ruth enviados pela Igreja Cristã / Igreja de Cristo (Discípulos independentes).

A história da Igreja de Cristo no Brasil se confunde com a do Pr. David Sanders. A primeira Igreja de Cristo em nosso país começou a ser implantada por ele ainda em 1948 no bairro de Vila Nova, em Goiânia – GO. Logo nos primeiros anos J. Richard e Carolee Ewing, Ruth Spurgean e Ellen Case se juntaram aos Sanders. “Em dezembro de 1953 Sanders se encontrou com a liderança da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo, que já tinha 25 anos e 13 igrejas por cinco Estados. Com a conclusão de que no essencial havia unidade, enquanto nas opiniões havia diferenças, a união foi aprovada dando à reunião o seu clímax. Então, Antônio dos Santos, presidente da Conferência de Ministros da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo, deu a mão da comunhão ao missionário David Sanders unindo com o Movimento de Restauração estas igrejas”.

Nas décadas de 1960 e 1970 outras famílias de missionários norte-americanos chegaram ao nosso país (Arthur Carter, Eugene Smith, Gerald Holmquist, Dale H. McAfee, Bill Loft, Bill Metz, Clint Thomas, Thomas Fife, Norman Maddux e hoje podemos citar ainda Earl Haubner, Phillip Keith McAfee, Jeff Fife entre outros). Trabalhos foram estabelecidos nos Estados do Pará, Amazonas, Amapá, Tocantins e no Distrito Federal, onde o Pr. David Sanders recebeu o lote 001 para igrejas no Plano Piloto em Brasília (EQS 305/306).

Uma liderança nacional começou a surgir no fim dos anos 1950, mas coube à terceira geração de pastores brasileiros assumir a direção da Igreja de Cristo no Brasil. Para o Pr. Ozório Gonçalves este fato é um divisor de águas na história da Igreja de Cristo em nosso país. Um outro fato que é muito marcante para o Movimento de Restauração no Brasil foi o avivamento promovido pela Renovação Carismática. Muito contribui para isso a adesão de irmãos de origem pentecostal-carismática, que aceitaram os ideais do Movimento de Restauração, deixaram as sólidas amarras denominacionais pela liberdade que há no Espírito e trouxeram com eles aquilo que consideravam parte da mensagem do Novo Testamento: o enchimento e os dons do Espírito Santo. O escritor citado acima também afirmou que esse avivamento dividiu as principais denominações brasileiras, mas a Igreja de Cristo não se dividiu. “Tradicionais” e “renovados” continuaram unidos! “No essencial, Unidade; Nas opiniões, Liberdade; Em Todas as Coisas, o Amor”.

Hoje existem aproximadamente 440 igrejas (80 no Distrito Federal, 300 em Goiás e 60 outros Estados, algumas são “mega-igrejas” com mais de 1.500 membros) com uma membresia superior a 90.000 irmãos. A Igreja de Cristo no Brasil (Independentes) mantém as seguintes instituições e serviços:

a) A Missão Cristã do Brasil – MCB que tem como objetivo abrir igrejas no Brasil e exterior, realizar trabalhos de apoio e logística para missionários. Além disso, a MCB realiza trabalhos de assistência social, preparo teológico e missiológico através das instituições que apoia. Ela também promove a comunhão entre os obreiros e pastores das Igrejas de Cristo. A MCB enviou e mantém missionários brasileiros em Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Portugal, Jordânia, Inglaterra (trabalhando com a comunidade de imigrantes da Índia), Líbano, Paraguai e EUA (com a comunidade de imigrantes brasileiros em Atlanta);
b) O Centro de Treinamento Missionário Lloyd David Sanders – CTM que é uma escola de formação missionária em regime de internato localizado no Distrito Federal;
c) A Faculdade Teológica Cristã do Brasil – FTCB em Brasília – DF;
d) O Concílio Ministerial das Igrejas de Cristo no Brasil;
e) A União da Mocidade das Igrejas de Cristo – UMIC e os seus Congressos (COMIC);
f) Várias entidades de assistência social como o Projeto Integral de Vida – PRÓ-VIDA;
g) Os Encontros de Atualização Teológica (Atualização Ministerial e Eclesiástica);
h) A Convenção Nacional do Concílio Ministerial das Igrejas de Cristo no Brasil;
i) O periódico “O Mensageiro das Igrejas de Cristo”;
j) O site do Movimento de Restauração no Brasil (www.movimentoderestauracao.com);
k) E inúmeros outros Congressos (Homens, Mulheres), Conferências Missionárias, Acampamentos, Campanhas Evangelísticas, entidades assistenciais, Seminários (como o de Pires do Rio – GO) e Faculdades (como a FATIC em Goiânia – GO).

A sexagenária Igreja de Cristo no Brasil, ainda jovem e renovada, é fruto de uma maneira brasileira de fazer a restauração do cristianismo bíblico. Ainda que, para alguns, lembre ou não o movimento homônimo norte-americano. Em nosso país, o Movimento de Restauração continua vivo e atuante!

Por fim, não poderíamos deixar de registrar que o grupo a capella chegou em 1956 com o casal Arlie e Alma Smith, que hoje são cerca de 120 congregações, têm 7 mil membros e não se relacionam conosco (a imensa maioria) e muitos nem nos consideram irmãos. Várias das suas inúmeras subdivisões (cerca de 30 nos EUA) também já desembarcaram por aqui. Uma delas, a Igreja de Cristo Internacional, esteve envolvida em uma grande polêmica com o Instituto Cristão de Pesquisas e foi matéria de capa da sua revista “Defesa da Fé”. As igrejas a capella e seus subgrupos são caracterizadas pelo exclusivismo e proselitismo intenso e são consideradas por alguns apologistas como um grupo controvertido ou até mesmo uma seita. A ala liberal e ecumênica não têm igrejas locais no Brasil, mas mantém dois trabalhos sociais em conjunto com presbiterianos e metodistas. Existem, ainda, igrejas iniciadas ou mantidas pela “Oak Hills Church” onde Max Lucado é pastor e outras igrejas associadas aos “independentes” dos EUA (Igreja de Cristo e Igreja Refúgio da Graça), que assim como nós também evitam os dois extremos do nosso Movimento.



Pedro Agostinho Jr.
Pastor da Igreja de Cristo

www.opresbiterocristao.blogspot.com

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