domingo, 4 de dezembro de 2022

Igreja Ortodoxa



Nota: "Igreja Ortodoxa Oriental" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Igrejas ortodoxas orientais.


Igreja Católica Ortodoxa


Vista da Catedral de São Jorge
Orientação Catolicismo ortodoxo
Fundador Jesus (conforme a santa tradição ortodoxa)
Origem Século I, Terra Santa, Império Romano[1]
Sede Santa Comunhão
Constantinopla
Belgrado
Alexandria
Antioquia
Jerusalém
Moscou
entre outras
Líder espiritual Primus inter pares
Bartolomeu I de Constantinopla
Número de membros 220 milhões
Países em que atua No mundo inteiro, principalmente na Europa Oriental e Oriente Médio


A Igreja Ortodoxa (em grego: ὀρθός; romaniz.: orthós , lit. reto, correto e δόξα, romaniz.: dóxa: opinião, glória;[2] literalmente, "igreja da opinião correta" ou "igreja da glória verdadeira", como traduzido pelos eslavos), também chamada como Igreja Católica Ortodoxa ou Igreja Ortodoxa Oriental[3][4] é uma comunhão de igrejas cristãs autocéfalas, herdeiras da cristandade do Império Romano Oriental, que reconhece o primado de honra do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla desde que a sede de Constantinopla e Roma deixaram de comungar, resultando no Grande Cisma. Reivindica ser a mesma instituição anunciada por Jesus, considerando seus líderes sucessores dos apóstolos.

Após o Pentecoste (século I), no ano 325 o Primeiro Concílio de Niceia reconheceu a autoridade já exercida pelos bispos de Roma, Alexandria e Antioquia sobre os bispos de certas outras províncias do Império Romano.[5] Em 381 o Primeiro Concílio de Constantinopla concedeu ao bispo da recém-fundada nova capital do império a precedência sobre os de Alexandria e Antioquia.[6] No Concílio de Calcedônia (451) o bispo de Jerusalém obteve a independência do bispo de Antioquia.[7] O imperador Justiniano I (527-565) por primeiro restringiu o título de "patriarca" para designar exclusivamente os bispos de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém e especificou as funções e a liderança de estes cinco patriarcas,[8] disposição adoptada depois pelo Concílio Quinissexto de 692.[9] Depois da separação entre Roma e os quatro outro bispos, a Igreja Ortodoxa aumentou o número de seus patriarcados e outras Igrejas autocéfalas (ver abaixo Jurisdições).

A Igreja Ortodoxa tem uma longa história de cerca de dois mil anos, contando-se a partir da Igreja Primitiva, e aproximadamente mil anos, contando-se a partir do Cisma do Oriente ou Grande Cisma, em 1054.[10] Desde então, os ortodoxos não reconhecem a primazia papal, a cláusula Filioque e não aceitam muitos dos dogmas proclamados pela Igreja Católica Romana em séculos recentes, tais como a Imaculada Conceição e a infalibilidade papal. Também não consideram válidos os sacramentos ministrados por outras confissões cristãs e em geral têm uma história hagiográfica à parte do catolicismo romano.

No seu conjunto, a Igreja Ortodoxa é a terceira maior confissão cristã (atrás do catolicismo romano e do protestantismo), e também a segunda maior instituição cristã do mundo (atrás da Igreja Católica Romana), contando ao todo com aproximadamente 250 milhões de fiéis, concentrados sobretudo nos países da Europa Oriental.[11][12]
História
Antiguidade

Ícone do Pentecostes

Até ao século XI, os cristãos da Igreja Ortodoxa e da Igreja Católica Romana têm uma história comum, que começa com a instituição do cristianismo por Jesus de Nazaré e sua difusão por seus discípulos, que, como o relatado no livro bíblico dos Atos dos Apóstolos,[13] espalharam-se a partir da cidade de Jerusalém, fundando a primeira comunidade denominada cristã em Antioquia e depois se espalhando, ainda pelos mesmos, pela Europa Ocidental, Oriente Médio, Ásia e Norte da África. Por volta do século IV, a Cristandade já chegara às mais diversas regiões, apesar das perseguições movidas por poderes tradicionalmente pagãos, e diversas escolas exegéticas haviam se desenvolvido, como a Escola de Antioquia e a Escola Catequética de Alexandria. A ortodoxia cristã, no entanto, era ameaçada por diversas doutrinas consideradas heréticas, como o arianismo, o novacianismo e o adocionismo, além das muitas seitas gnósticas. Em 313, no entanto, o Édito de Milão finalmente instituiu a liberdade religiosa no Império Romano, o que foi seguido por uma progressiva cristianização do Império a partir da conversão do imperador Constantino no ano de 324. Foi então convocado o Primeiro Concílio de Niceia, que buscou a unificação da Cristandade, a solidificação dos preceitos da fé cristã, o anátema das principais heresias da época e a composição de um credo comum ortodoxo, o Credo Niceno.[14]

Neste Concílio, estabeleceu-se que em cada província civil do Império Romano o corpo dos bispos deveria ser encabeçado pelo bispo da capital provincial (o bispo metropolita), mas reconheceu a autoridade super-metropolitana já exercida pelos bispos de Roma, Alexandria e Antioquia. Além disso, decretou que o bispo de Jerusalém tivesse direito a honra especial, embora não a autoridade sobre outros bispos.[15][16] Quando a residência do imperador romano e o senado foram transferidos para Constantinopla, em 330, o Bispo de Roma perdeu influência nas igrejas orientais, em benefício do Bispo de Constantinopla. Ainda assim, Roma continuou a ter uma autoridade ecumênica especial devido à sua ligação tradicional com o apóstolo Pedro e seu passado como capital do Império Romano.[17]

No ano de 381, foi realizado na parte oriental do império o Primeiro Concílio de Constantinopla, que decretou a divindade do Espírito Santo, lançando anátema sobre os macedonianos e tendo suas decisões acatadas pelas igrejas ocidentais.[18] Em 431, o Primeiro Concílio de Éfeso proclamou, a despeito dos nestorianos, que a Virgem Maria era a Teótoco ("Mãe de Deus"), o que gerou a Igreja do Oriente, até hoje separada das grandes comunhões cristãs. A grande maioria dos fiéis habitavam na Índia e na Síria, após uma retração substancial da antes forte presença nestoriana na China e na Ásia Central. Na Índia, a maioria dos sucessores deste cisma passaram depois ao catolicismo oriental ou ao miafisismo.[19] Na Síria também muitos passaram ao catolicismo oriental e formaram a Igreja Católica Caldeia.[20] Em 451, o Concílio de Calcedônia condenou o monofisismo. Isto gerou um cisma na Igreja de Alexandria liderado por Dióscoro, que, apesar de não professar a doutrina monofisista de Êutiques, rejeitava a resolução de Calcedônia, gerando a formação da Igreja Copta.[21][22] Progressivamente, grupos no Levante e na Armênia rejeitariam o Concílio e se uniriam aos coptas, dando origem às chamadas igrejas ortodoxas orientais, que ainda se expandiriam pela África e Índia.
Distanciamento entre Ocidente e Oriente

Uma série de dificuldades estimulou um progressivo distanciamento entre Roma e os demais patriarcados. Primeiramente, a quebra da unidade política. Com a divisão do Império Romano em 395 e a queda do Império Romano do Ocidente em 476, Oriente e Ocidente deixaram de estar sob o mesmo governo. No século VI, o imperador Justiniano I empreendeu uma série de campanhas militares na parte ocidental ocupada pelos germânicos e que resultou na conquista da península itálica, mas que foi posteriormente perdida no século VIII com a progressiva penetração dos lombardos. Mais tarde, com a ascensão do Islamismo, as trocas econômicas e os contatos por via marítima entre o Império Bizantino, de língua grega, e o Ocidente, de língua latina, se tornaram mais difíceis, e a unidade cultural entre os dois mundos deixou paulatinamente de existir. No século VIII, Roma colocou-se sob a proteção do Império Carolíngio, o que criou uma situação em que as Igrejas em Roma e em Constantinopla estavam no seio de dois impérios distintos, fortes e autossuficientes, cada qual com sua própria tradição e cultura.

O primeiro grande cisma entre o Ocidente e o Oriente seria o Cisma Acaciano, a partir de 484, quando a tentativa por parte da Igreja de Constantinopla de reconciliar-se com os não calcedônios gerou desaprovação por parte do Papa Félix III, ultimamente levando Acácio de Constantinopla a riscar o nome de Félix de seus dípticos. As tentativas de reconciliação só seriam vitoriosas na Páscoa de 519. No ano de 553, foi convocado o Segundo Concílio de Constantinopla, que aprofundou as decisões do concílio ecumênico anterior. Tentativas posteriores de reconciliação com os não calcedônios levariam ao monotelismo e ao monoenergismo, condenados no Terceiro Concílio de Constantinopla em 681. Em 787, dado o surto iconoclasta em Constantinopla, Irene de Atenas convocou o Segundo Concílio de Niceia, para ratificar a ortodoxia da veneração de imagens, especialmente pelo trabalho de São João de Damasco. Este episódio é frequentemente referido como "Triunfo da Ortodoxia".[23]

Além do anteriormente citado, a situação de afastamento ensejou uma escalada de divergências doutrinárias entre Oriente e Ocidente (em particular, a inclusão no sexto século, pela Igreja Latina, da cláusula Filioque (significa "e do filho" e indicava que o Espírito Santo procedia tanto do pai como do Filho), no Credo niceno-constantinopolitano, considerada herética pelos ortodoxos) e a adoção gradativa de rituais diferentes entre si. Ao mesmo tempo, acentuou-se a pretensão, por parte de Roma, de exercer uma autoridade incontestada sobre todo o mundo cristão, enquanto que Constantinopla aceitava somente que Roma tivesse uma posição de honra. O atrito entre Cristandade latina e grega se intensificou com a cristianização do Império Búlgaro, quando missionários da Frância Oriental, da Alemanha e do Império Bizantino chocaram-se na região, deflagrando disputas, por exemplo, quanto à linguagem dos ofícios e ao uso do Filioque, que mesmo ainda não utilizado em totalidade pela Igreja Latina, já fora introduzido pelos francos e alemães.[14][24]

Tais disputas chegariam a seu ápice no Cisma de Fócio, quando, após o Imperador Miguel III, o Ébrio depor o Patriarca Inácio I de Constantinopla em benefício de São Fócio em 858, o Papa Nicolau I condenou a Sé de Constantinopla em 863, que fatalmente excomungou o Papa em 867. Durante o Cisma, em 865, o príncipe Bóris I da Bulgária, temendo um invasão bizantina, aceitou o batismo das mãos não do clero alemão, mas do bizantino.[14] O cisma apenas seria resolvido em 867, com a morte de Miguel III, mas, em 879, Basílio I, o Macedônio convocou o Quarto Concílio de Constantinopla, reabilitando São Fócio, que condenava em seus escritos o Filioque como blasfemo, além de dar autocefalia à Igreja da Bulgária.[25][26] Alguns autores ortodoxos chegam a considerar este o Oitavo Concílio Ecumênico.

O mesmo Patriarca Fócio foi conhecido por ter tomado esforços massivos para a cristianização dos eslavos enviando os jovens missionários Cirilo e Metódio para a Grande Morávia no ano de 862, a pedido de seu próprio soberano, o Duque Rastislau. Para isto, os irmãos codificaram a língua eslava eclesiástica com base no dialeto que aprenderam dos eslavos de Salônica, compondo para tal o alfabeto glagolítico (baseado em seu conhecimento anterior de múltiplos sistemas de escrita) e traduziram a Bíblia e livros litúrgicos do rito bizantino para o idioma. Após a morte de Cirilo, Metódio e Rastislau, no entanto (os três hoje venerados como santos tanto na Igreja Ortodoxa quanto na Igreja Católica Romana), Zuentibaldo I, provavelmente por pressão do clero franco, perseguiu seus discípulos (chamados cirilo-metodistas), que foram presos, escravizados ou exilados para a Bulgária, onde seguiram sua missão evangélica sob a liderança de Santos Clemente de Ocrida e Naum de Preslava, em que compensaram a expulsão do clero grego fornecendo ofícios em eslavônico.[27][28][14] Os cirilo-metodistas ainda se expandiriam rapidamente para a Sérvia (que já era considerada um país cristão por volta de 870, com a conversão de Mutímero e outros nobres)[29] e à Rússia de Quieve.

Esta parte do clero franco que expulsara os missionários cirilo-metodistas de língua eslavônica da Morávia aderia à chamada heresia trilíngue, ou heresia pilaciana, que dizia só ser possível adorar a Deus em hebraico, grego ou latim.[28][30]

Todas as supracitadas tensões acumuladas fatalmente levaram à ruptura entre as igrejas, em 1054, com a excomunhão mútua entre autoridades da Igreja Católica Ocidental e da Igreja Ortodoxa Oriental (Grécia, Rússia e outras terras eslavas, além de Anatólia, Cáucaso, Síria, Egito, etc., incluindo áreas onde muitos dos cristãos já pertenciam a Igrejas Ortodoxas Orientais). A essa divisão a historiografia ocidental chama Cisma do Oriente ou Cisma do Oriente e do Ocidente, ou simplesmente Grande Cisma.
Ortodoxia grega nos séculos posteriores ao Cisma

A relação entre a Igreja Ocidental e a Oriental fica ainda pior no decorrer da Quarta Cruzada, que sela a divisão entre as igrejas. O saque à Basílica de Santa Sofia e o estabelecimento do Império Latino são até hoje motivos de tensão, ainda que o primeiro tenha sido repudiado pelo Papa Inocêncio II à época, só sendo todavia emitidas desculpas oficiais por João Paulo II em 2004, aceites por Bartolomeu I de Constantinopla.

Tentou-se restabelecer a união no Segundo Concílio de Lyon (em 1274) e no Concílio de Florença (em 1439). Foram feitas pressões para um restabelecimento da comunhão neste segundo, ainda que canonicamente contestáveis e recebidas com oposição por personalidades como São Marcos de Éfeso, mas a união acabou se desfazendo com a Queda de Constantinopla. Algumas comunidades ortodoxas fatalmente entrariam em comunhão em períodos diferentes, juntas formando parte da Igreja Católica Oriental.

Entre 1341 e 1351, foram congregados uma série de concílios, coletivamente conhecidos como Quinto Concílio de Constantinopla, afirmando a ortodoxia da teologia hesicasta de São Gregório Palamas, condenando o racionalismo do filósofo Barlaão da Calábria. Alguns ortodoxos chamam a este, o Nono Concílio Ecumênico.[31]

Em 1453, Constantinopla cai para o Império Otomano, que fatalmente toma quase todos os Bálcãs. O Egito era tomado pelo islamismo desde o século VIII, mas a Ortodoxia ainda era forte na Rússia, que passaria a ser referida como Terceira Roma.[32] O Patriarca de Constantinopla tem autoridade administrativa sobre os rumes do Império Otomano, que permite certa liberdade de culto no Império. No Império Russo, a Igreja Ortodoxa Russa era uma instituição desconectada do Estado até 1666, com a deposição do Patriarca Nikon (conhecido pelas reformas que levaram ao cisma dos velhos crentes), influenciada por Aleixo I.

Sob o jugo otomano, os cristãos ortodoxos, organizados sob o millet romano, experienciaram um congelamento da antes florescente atividade missionária, além de eventuais mártires e uma hierarquia crescentemente corrompida em decorrência das pesadas taxações impostas pelos otomanos.[14] O berat, a aprovação do sultão para o ocupante do posto de Patriarca Ecumênico, por exemplo, era frequentemente vendido àquele que oferecesse mais dinheiro, e muitos patriarcas foram depostos e restituídos por questões financeiras: dos 159 patriarcas que ocuparam o trono durante o período otomano, apenas 21 tiveram mortes naturais enquanto exerciam o pontificado, enquanto 105 foram retirados pelos turcos, 27 abdicaram (frequentemente por coação externa) e 6 sofreram mortes violentas.[33] Por outro lado, o poder do Patriarca de Constantinopla teve sua máxima extensão histórica com a subjugação de outros povos ortodoxos sob domínio turco, com o restante da Tetrarquia, ainda que canonicamente autocéfala, tendo extrema influência turca, e as igrejas da Bulgária e Sérvia gradualmente passando para domínio direto de Constantinopla. Adicionalmente, a estrutura de imperium in imperio dos milletler permitiu que as identidades locais ortodoxas fossem preservadas através dos séculos, de forma que a partir do início do século XIX algumas culturas fossem restauradas como estados-nações independentes.[14]
Idade Contemporânea

No século XVIII, a Igreja Ortodoxa volta a estar presente no Hemisfério Ocidental, com a chegada de missionários russos ao Alasca em 1867, então parte do Império Russo. Mesmo no atual estado norte-americano de Alasca, 12,5% da população se declara ortodoxa.[34] Em 1721, Pedro I abole o Patriarcado e transforma a Igreja em uma instituição estatal, o que só é interrompido com a Revolução de Outubro. O ressurgimento da posição, no entanto, não duraria muito, com o Patriarcado sendo extinto pelo governo comunista após a morte do Patriarca Tikhon. Em 1943, no entanto, o Patriarcado foi reinstituído por Joseph Stalin. Ainda haveria perseguições sob Khrushchev, que chegou a fechar 12 mil igrejas. Menos de 7 mil permaneciam ativas à altura de 1982.[35] Hoje, de acordo com dados de 2016, a Igreja Ortodoxa Russa dispõe de cerca de 35 mil paróquias pelo mundo.[36]

Com o ateísmo de Estado dos regimes comunistas que se implantaram em nações com presença ortodoxa como na Europa Oriental, regiões asiáticas da União Soviética e China, a Igreja Ortodoxa sofreu fortemente com perseguição e censura, o caso mais drástico provavelmente sendo o da Albânia de Enver Hoxha, declarada oficialmente ateísta e tendo sua igreja nacional fechada entre 1967 e 1992.[37] Em outros países, no entanto, como na Romênia, a Igreja teve relativa liberdade, apesar do forte controle por parte da polícia e de experiências como as tentativas de lavagem cerebral de crentes na prisão de Piteşti, o que por fim seria rigorosamente punido pelo Estado.

Com a queda das ditaduras comunistas da Europa Oriental, começando pela Albânia em 1976 e depois por uma queda abrupta de todas as restantes entre 1989 e 1992, as jurisdições da Igreja Ortodoxa oprimidas por estes regimes começaram a tomar mais liberdade. Em 2007, a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, que se separara do Patriarcado de Moscou após o Patriarca Sérgio de Moscou, na prisão, jurar aliança ao Estado comunista, restaurou a comunhão.[38] Em 2016, em Creta, foi congregado um Concílio Pan-Ortodoxo, como planejado desde os anos 60.
Diferenças para outras confissões

Apesar de católicos romanos e ortodoxos terem uma história comum, que começa com a fundação da Igreja primitiva e com a difusão do cristianismo pelos apóstolos, uma série de dificuldades ocasionou o progressivo distanciamento entre o Bispo de Roma e os Patriarcas. Primeiro veio a quebra da unidade política. Com a divisão do Império Romano em 395, a queda do Império Romano do Ocidente em 476 e o fracasso da tentativa de Justiniano de reunificar o império a partir de 535, o Oriente e o Ocidente deixaram de ter o mesmo governo. A partir do século VII, com a ascensão do Islamismo, as trocas econômicas e os contatos por via marítima entre o Império Bizantino, de língua grega, e o Ocidente, de língua latina, tornaram-se mais difíceis, e a unidade cultural se deteriorou.

Em que pesem diferenças teológicas, organizativas e de espiritualidade não desprezáveis, a Igreja Ortodoxa é, em muitos aspectos, semelhante à Igreja Católica: preserva os sete sacramentos (ainda que reconheça outros sacramentos e o número exato de sete tenha sido emprestado dos catecismos católicos romanos),[39] o respeito a ícones e o uso de vestes litúrgicas nos seus cultos (denominados de Divina Liturgia). Seus fiéis são chamados de cristãos ortodoxos.

Em inglês empregam-se dois sinônimos, cada um dos quais corresponde à palavra portuguesa "oriental", para distinguir as Igrejas que aceitam o Concílio de Calcedônia e a sua doutrina do diofisismo das que os rejeitam. As primeiras são chamadas de "Eastern Orthodox" e as outras, "Oriental Orthodox".[40] Os correspondentes nomes em alemão são "östlich-orthodoxe" e "orientalisch-orthodoxe".[41] Em línguas que não dispõem deste par de sinônimos (como o espanhol e o francês), segundo o Conselho Mundial de Igrejas, o termo "ortodoxas orientais" é geralmente reservado às igrejas que rejeitam o Concílio,[42][43] enquanto que as que o aceitam são chamadas de "ortodoxas bizantinas"[44] ou "ortodoxas calcedonianas".[45]
Culto

De forma geral, a Igreja Ortodoxa está fortemente associada ao rito bizantino, ainda que este traga variações locais. Até o século XVII, havia consideráveis diferenças entre os ritos eslavos e os bizantinos, mas reformas do Patriarca Nikon de Moscou diminuíram tal variedade, aproximando drasticamente o uso pela Igreja Ortodoxa Russa daquele encontrado em livros litúrgicos de procedência constantinopolitana, gerando recensão crescentemente introduzida em outras igrejas eslavas em decorrência da influência russa sobre ortodoxos sob jugo otomano.[46][47]

Esta medida, contudo, não privou a Igreja Ortodoxa de sua diversidade litúrgica original. A Igreja Ortodoxa Georgiana, por exemplo, preserva alguns traços de suas práticas anteriores à introdução do rito bizantino no país, como formas particulares de iconografia e canto polifônico, crescentemente reforçadas por esta igreja como forma de reafirmação nacional.[48][49] A instituição dos Edinoverie, velhos crentes admitidos na Igreja Russia oficial a partir do século XVIII, reintroduziu as práticas pré-nikonianas na Igreja.[50] Ainda, o fenômeno da Ortodoxia de rito ocidental a partir do século XIX reabriu as portas para diversos ritos romanos adaptados, estes não praticados por ortodoxos desde o fim do Mosteiro de Amálfion no século XIII, reduto beneditino no Monte Atos.[51]

O ano litúrgico ortodoxo, pelas particularidades de seus desenvolvimentos locais e por escolhas (por vezes arbitrárias) de inclusão, tem uma forma geral rígida, mas com grande variedade de detalhes em cada recensão.
Comunhão ortodoxa

Emblema na sede do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, em Istambul

A Igreja Ortodoxa é formada pela comunhão plena de catorze jurisdições eclesiásticas autocéfalas (mais a Igreja Ortodoxa na América, apenas parcialmente reconhecida) que professam a mesma fé e, com algumas variantes culturais, praticam basicamente os mesmos ritos. O chefe espiritual das Igrejas Ortodoxas é o Patriarca de Constantinopla, embora este seja um título mais honorífico, uma vez que os patriarcas de cada uma dessas igrejas são independentes. Desta forma, diz-se que o Patriarca de Constantinopla é o primeiro entre iguais. A maior parte das igrejas ortodoxas usa o rito bizantino.

Para os ortodoxos, o chefe único e líder da Igreja, e sem intermediários, representantes ou legatários, é o próprio Jesus. A autoridade suprema na Igreja Ortodoxa é o Santo Sínodo, que se compõe de todos os patriarcas chefes das igrejas autocéfalas e dos arcebispos primazes das igrejas autônomas, que se reúnem por chamada do Patriarca Ecumênico de Constantinopla.

A autoridade suprema regional em todos os patriarcados autocéfalos e igrejas ortodoxas autônomas é da competência do Santo Sínodo local. Uma igreja autocéfala possui o direito a resolver todos os seus problemas internos com base na sua própria autoridade, tendo também o direito de remover qualquer dos seus bispos, incluindo o próprio patriarca, arcebispo ou metropolita que presida esta Igreja.
Jurisdições

Territórios canônicos de jurisdições ortodoxas autocefálicas e autônomas (2020).

Igreja Ortodoxa Russa de Santa Maria Madalena em Jerusalém

Catedral de Nossa Senhora de Kazan, em São Petersburgo, na Rússia

Catedral Ortodoxa Metropolitana de São Paulo, no Brasil

A catedral de São Sava da Igreja Ortodoxa Sérvia em Belgrado

Abaixo, a lista das jurisdições que formam a Igreja Ortodoxa, com algumas das respectivas igrejas autônomas e exarcados. Os quatro primeiros são os antigos patriarcas, que carregam a tradição da pentarquia. Os cinco seguintes são os pequenos patriarcas, posteriormente reconhecidos pelo Patriarca de Constantinopla. As seis últimas igrejas são autocéfalas, mas não têm seus líderes reconhecidos como patriarcas. As que não têm notas referentes a seu reconhecimento estão em plena comunhão.[52][53][54][55][56]Patriarcado de ConstantinoplaIgreja Ortodoxa Finlandesa
Igreja Ortodoxa Apostólica Estoniana, autonomia reconhecida por Constantinopla, mas não por Moscou
Patriarcado de Alexandria
Patriarcado de Antioquia
Patriarcado de JerusalémIgreja Ortodoxa do Sinai
Patriarcado da Bulgária, autocefalia reconhecida em 927
Patriarcado da Geórgia, autocefalia reconhecida em 1008
Patriarcado da Sérvia, autocefalia reconhecida em 1119Arquidiocese de Ocrida
Patriarcado de Moscou, autocefalia reconhecida em 1589Igreja Ortodoxa Ucraniana, autonomia reconhecida por Moscou, mas não por Constantinopla
Igreja Ortodoxa Japonesa, autonomia reconhecida por Moscou, mas não por Constantinopla
Igreja Ortodoxa Chinesa, autonomia reconhecida por Moscou, mas não por Constantinopla; situação excepcional[57]
Patriarcado da Romênia, autocefalia reconhecida em 1925
Igreja Ortodoxa Polonesa
Igreja de Chipre
Igreja da Grécia
Igreja Ortodoxa Albanesa
Igreja Ortodoxa Tcheca e Eslovaca
Igreja Ortodoxa na América, reconhecida como autocéfala pela Russa, a Búlgara, a Georgiana, a Polonesa e a Tcheca e Eslovaca
Igreja Ortodoxa da Ucrânia, reconhecida como autocéfala por Constantinopla, Alexandria, Igreja da Grécia e Igreja do Chipre.[58][59][60][61][62][63]

Entre as igrejas semiautônomas temos a Igreja Ortodoxa Cretense, Igreja Ortodoxa Estoniana, Igreja Ortodoxa da Letônia e a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior.

Entre as igrejas não reconhecidas, seja por cisma ou por não reconhecimento de seu auto-governo por nenhuma instituição senão elas mesmas, temos:A Igreja Ortodoxa Macedônia, cuja autocefalia é objeto de oposição pela Igreja Ortodoxa Sérvia, e não mantém relações com outras jurisdições;
A Metrópole da Bessarábia, proclamada autônoma dentro da Romena, mas objeto de oposição por parte da Russa.

Dentre as igrejas não reconhecidas, existiam o Patriarcado de Kiev e a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana, que foram integradas na Igreja Ortodoxa da Ucrânia pelo concílio de unificação ocorrido em 15 de dezembro de 2018, que votou pela unificação das jurisdições ortodoxas ucranianas existentes: a Igreja Ortodoxa Ucraniana (Patriarcado de Kiev), a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana e uma parcela da Igreja Ortodoxa Ucraniana obediente ao Patriarcado de Moscou.[64] Em outubro de 2018, o Patriarcado de Constantinopla anulou a excomunhão de seu clero em passo para a declaração de autocefalia dos ortodoxos ucranianos, pelo que a Igreja Ortodoxa Russa, sob cujo Sínodo está a Igreja Ortodoxa Ucraniana canônica, rompeu a comunhão com Constantinopla.[65] Outra ruptura parcial de comunhão ocorre entre Antioquia e Jerusalém desde abril de 2014, em virtude da discordância sobre qual das duas teria jurisdição sobre o Catar.[66]
Diáspora
No Brasil
Ver artigo principal: Cristianismo ortodoxo no Brasil

A Igreja Ortodoxa é presente no Brasil tanto por imigrantes e seus descendentes quanto por comunidades inteiras de brasileiros convertidos. A primeira Divina Liturgia do país da qual se tem registro foi celebrada em 1897, com a primeira paróquia, a Igreja da Anunciação à Nossa Senhora, construída em São Paulo em 1904 pela comunidade sírio-libanesa e presidida pelo Arquimandrita Silvestros As-Seghir como vicariato patriarcal da Igreja de Antioquia, emergindo da mesma comunidade. Em 1958, esta comunidade seria elevada ao status de arquidiocese, com Dom Ignatios Ferzli presidindo-a como o primeiro bispo residente no país.

Hoje existem paróquias das igrejas de Antioquia (tanto pela Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo e Todo o Brasil quanto por Vicariato Patriarcal), da Russa, do Patriarcado Ecumênico (tanto pela Arquidiocese Grega quanto pela Eparquia Ucraniana), da Polonesa e da Sérvia no país. As duas últimas comunidades são basicamente compostas por brasileiros convertidos, mas estes também se encontram presentes nas outras, que recebem brasileiros e fazem atividade missionária pelo país. O censo demográfico do Brasil de 2010 contou 131571 cristãos ortodoxos no Brasil.[67]

Há paróquias perfeitamente canônicas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Pernambuco, Paraíba, Maranhão e Ceará.[carece de fontes] Há quatro bispos diocesanos residentes no país: Dom Chrisóstomo Muniz Freire, Dom Ambrósio Cubas, Dom Damaskinos Mansour e Dom Jeremias Ferens. Há ainda outros bispos residentes no exterior com jurisdição direta sobre o Brasil, além de um vicariato patriarcal de Antioquia no Rio de Janeiro.
Em Portugal

Apesar de toda a Europa Ocidental ser clamada como território canônico próprio pelo Patriarcado Ecuménico, existem em Portugal, além da presença da Igreja Grega sob o omofório deste Patriarca, a Igreja Ortodoxa Búlgara, a Russa e a Romena.[68] O XV Recenseamento Geral da População de Portugal contou 56 550 ortodoxos no país dentre a população com 15 anos ou mais, apesar de, como no caso do Brasil, fazer-se necessário atentar-se para grupos que não são parte da Igreja, como a dita Igreja Católica Ortodoxa Lusitana.[69] Não há bispos residentes em Portugal em comunhão com o restante da Igreja, apesar de já ter havido no passado, antes de os bispos da Igreja Ortodoxa Polonesa no país separar-se do Sínodo.[70]
Em Moçambique

Há paróquias ortodoxas em Moçambique, todas no território eclesial da Igreja Ortodoxa Grega de Alexandria. Estas paróquias já estiveram, em momentos diferentes, sob a Metrópole de Joanesburgo e sob a Diocese do Zimbábue, mas existe desde 2006 uma Diocese de Maputo, hoje ocupada pelo Bispo João Tsaftarides.[71] A primeira paróquia ortodoxa no sul da África foi edificada no país, o Templo Sagrado da Santa Trindade, a partir de 1876. A maior parte dos ortodoxos do país é de origem grega, mas há nativos convertidos. O Censo de 2007 contabilizou apenas as maiores denominações religiosas no país, deixando de lado a população ortodoxa.[72]
Ver tambémOrtodoxia
Teologia da Igreja Ortodoxa

Referências

  1.  Stanford, Peter. «Roman Catholic Church»BBC Religions. BBC. Consultado em 1 de fevereiro de 2017
  2.  A Greek-English Lexicon: δόξα
  3.  Encyclopaedia Britannica. "Eastern Orthodoxy". Encyclopaedia Britannica. "Eastern Orthodoxy, official name, used in British English as well, is Orthodox Catholic Church, one of the three major doctrinal and jurisdictional groups of Christianity. [...] The official designations of the church in its liturgical or canonical texts are either “the Orthodox Catholic Church” or the "Greek Catholic Church" only. Because of the use of the name "Greek Catholics" by the Eastern churches of the Catholic Church and the historical links of the Orthodox Catholic church with the Eastern Roman Empire and Byzantium (Constantinople), however, the exonyms in American English usage referred to it as the “Eastern” or “Greek Orthodox” Church. These terms are sometimes misleading, especially when applied to Russian or Slavic churches and to the Orthodox communities in western Europe and America."
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