terça-feira, 14 de março de 2023

O QUE É O DOM DE PROFECIA





DOM DE PROFECIA – DONS ESPIRITUAIS

O dom de profecia faz parte da lista de dons citado por Paulo em 1 Co 12.

Muito discutido entre estudiosos e cristãos em geral. E por existir até uma certa confusão acerca desse dom espiritual, estudaremos nesse artigo sobre o assunto.


DOM DE PROFECIA NO ANTIGO TESTAMENTO


No Antigo Testamento, havia um “ministério profético”, reconhecido e considerado por toda a nação, mas hoje, não existe esse ministério nas igrejas cristãs.

Existem pessoas ou mensageiros de Deus, que possuem o “dom de profecia”, usado em determinadas ocasiões, como propósitos definidos, como veremos mais adiante.

Entre os dons ministeriais, há dom de profeta.

No Antigo Testamento, as palavras entregues pelos profetas não admitiam julgamento, exceto quanto a seu cumprimento.

Quando o profeta era de fato “homem de Deus”, nenhuma palavra deixava de se cumprir (1 Sm 3.19).








“E crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra”.



Se a profecia não cumprisse, o consideravam um falso profeta e o puniam com pena de morte (Dt 13.5; 18.20,22).

No Novo Testamento, os profetas podem ser julgados ou avaliados (1 Co 14.29).

Já pensou se houvesse punição para os falsos profetas de hoje…


DOM DE PROFECIA NO NOVO TESTAMENTO


O dom de profecia, no Novo Testamento, possui algumas diferenças, em relação ao ministério profético do Antigo Testamento.






Na Antiga Aliança, os profetas, ou mensageiros de Deus, tinham mensagens dirigidas a todo o povo, à nação de Israel e, em determinadas ocasiões, a pessoas individualmente, a reis, a profetas e a quem Deus quisesse enviar sua palavra.

No Novo Testamento, a mensagem profética é proclamada, no seio de uma igreja local.

Dificilmente, há uma mensagem para toda a nação.

Embora essa hipótese não seja descartada, Deus age e fala como quer.

Deve-se considerar que a profecia, bem como outras manifestações do Espírito Santo, é absolutamente necessária nos dias presentes.

Concluir que os dons, sinais e prodígios, foram apenas para os dias dos apóstolos, é reduzir o poder e ação do Espírito Santo a uma matriz teológica, acadêmica e intelectualizada, que não creem nas afirmações da Palavra de Deus.


O QUE É DOM DE PROFECIA


Para entendermos melhor o dom de profecia, precisamos saber um pouco sobre o significado da palavra profeta e profecia.






No Antigo Testamento, a palavra profeta é navi, (hb. Nãbi’) que se refere ao homem inspirado pelo Espírito Santo para entregar as mensagens de Deus para as pessoas. (2 Pedro 1:21)

A palavra profetizar, no Antigo Testamento, é nãbã, isto é, a função do verdadeiro profeta quando ele fala a mensagem de Deus para o povo sob a influência do Espírito Divino (1 Rs 22.8; Jr 29.27; Ez 37.10).

No Novo Testamento, a palavra grega para profecia é propheteia, formada de dois termos, depro, que significa “adiante”, “antecipado” e phemi, “falar”.

Assim, nesses termos, profecia significa a declaração do que se não conhece por meios naturais (Mt 26.68).

É portanto, a descrição antecipada da vontade de Deus, quer com referência ao passado, presente e futuro (Gn 20.7; Dt 18.18; Ap 10.11; 11.3).

Profetizar, no grego, se resume numa palavra, propheteiiein, que significa “falar em nome de alguém, em favor de alguém”.

O dom de profecia é um dom especial, em que seu portador transmite uma mensagem para a igreja ou para alguém, na inspiração do Espírito Santo.

Não pode ser uma mensagem humana, pessoal da parte do que a transmite.


O CUIDADO COM O DOM

É necessário cuidar com as distorções que podem ocorrer na transmissão da mensagem profética, na igreja de hoje.

Diz a Bíblia: O profeta que teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor” (Jr 23.28).

Não deve haver mistura da “palha” das “profetadas”, que ocorrem aqui e ali, em certas igrejas, com o genuíno “trigo” da verdadeira profecia, transmitida por um servo ou serva de Deus, pela inspiração do Espírito Santo.

Segundo Raymond Carlson, A profecia, no Novo Testamento, que difere de uma pregação comum, é uma manifestação sobrenatural, dada para edificação, exortação e consolação.

Lendo 1 Coríntios 14:30, entendemos que o dom é dado por revelação através do Espírito”.

Uma pregação pode ter caráter profético, mas nem toda pregação é profecia.

Raymond Carlson diz que a profecia, “como seu homônimo dom de línguas, tem de conter elementos de revelação, conhecimento e doutrina”.






Sem dúvida, a profecia resulta de revelação espiritual e de conhecimento, concedido por Deus.

Mas não pode trazer nova doutrina, pois tudo o que consta na Bíblia é a Palavra de Deus, suficiente e necessária para nossa edificação.

Quando o autor citado diz que a profecia deve conter doutrina, certamente quer dizer que ela tem que ter fundamento doutrinário ou bíblico.

Portanto, a profecia não pode acrescentar nada à Bíblia.


FINALIDADE DA PROFECIA


Como todos os demais dons espirituais, o de profecia tem propósitos especiais da parte de Deus para a Igreja de Jesus Cristo.

Por isso, deve estar conforme a Palavra de Deus.

“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7).

Portanto, de maneira bem clara e até didática, o dom de profecia tem três finalidades básicas, em proveito da igreja:

“Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação” (1 Co 14.3).

Vejamos então a seguir as finalidades do dom:
1. EDIFICAÇÃO


Assim como um edifício de pedras é edificado pouco a pouco, com a união dos elementos materiais, com a argamassa própria, da mesma forma, os crentes em Jesus são “edifício de Deus” (1 Coríntios 3:9).

A formação espiritual de um discípulo de Jesus começa com a conversão, mas não para no discipulado inicial.

Deve continuar por toda a vida, pouco a pouco, o ensino da Palavra e da doutrina do Senhor vai construindo o caráter cristão no crente.

Mas, às vezes, é necessária uma mensagem especial ou específica para alguém ou para toda a congregação.

E aí que Deus usa um profeta para transmitir uma mensagem da parte de Deus, visando corrigir ou colocar “no prumo”, ou “no nível”, alguma área da edificação espiritual.

Pastores são “serventes” ou “servidores” do supremo Arquiteto ou Construtor, que é Cristo.
2. EXORTAÇÃO


Exortar tem o sentido de “chamar para fora”, para orientar, ajudar e ensinar.

Deriva da palavra grega parakalao, que tem o sentido de confortar, inspirar, defender e guiar.

Exortar não tem o sentido distorcido, entendido por alguns, de que significa ameaçar, intimidar, ou causar pavor, na igreja.

O verbo grego parakalao tem origem em outra palavra de muito significado, Paracleto, que significa Consolador, título dado ao Espírito Santo (Jo 14.16; 15.26).

Por isso, Paulo ensina que quem exorta deve fazê-lo “com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2).
A EXORTAÇÃO VERDADEIRA ZELA PELA BÍBLIA

Uma mensagem profética ajuda a entender como aplicar a Profecia Maior, que é a Bíblia Sagrada, para os dias presentes.

Sem o ensino da Palavra de Deus e da mensagem profética, há uma tendência para a ocorrência de desvios de conduta e distorções perigosas no meio das igrejas locais.

Diz Provérbios: “Não havendo profecia, o povo se corrompe…” (Pv 29.18).

As inovações e modismos têm tomado conta de muitos redutos pentecostais.

A chamada “teologia da prosperidade” tem causado grandes estragos, com sua filosofia utilitarista dos dons e da Palavra de Deus.

O evangelho antropocêntrico tem dado ao homem a primazia nas decisões e ensinamentos de muitos líderes.

Aberrações teológicas ou práticas estranhas têm ocorrido, em certas igrejas.

A “unção do riso”, “a unção do leão”, “a urina ungida”, inventada por determinada igreja (os crentes saíram urinando, nas esquinas e ruas de uma cidade, para “marcar território”), para o pecado diminuir.

São ensinos heréticos, que têm grande aceitação no meio de igrejas e atraem muitos crentes que não conhecem a Palavra de Deus.

Deus disse, no Antigo Testamento:

“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento…” (Os 4.6).

Portanto, essa palavra aplica-se de modo bem atual, ao que está ocorrendo no meio dos evangélicos.


3. CONSOLAÇÃO


O Espírito Santo é também chamado de “outro Consolador” (Jo 14.16).

Ele é o parakleto prometido por Cristo, por isso, também usa o dom de profecia, para transmitir mensagens de consolação aos servos de Deus.

Já vimos que o verbo parakaleo significa consolar, confortar.

E o que podemos ver em Barnabé, amigo de Paulo (At 4.36; ver Rm 15-4,5; 1 Co 14.3; 2 Co 1.3,4-7)).

Consolação vem deparaklesis e tem o sentido de “consolar”, “dar alegria”, dar “paz”.

Paulo diz que todos os crentes podem profetizar (se Deus conceder tal dom), visando a consolação da igreja:

“Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados” (1 Co 14.31).

Mas muitas vezes, infelizmente, o zelo exagerado de alguns ministros, com a palavra e as normas da igreja local faz com ele se torne agressivo, intolerante e radical.

E esquecem que, no meio da congregação, há dezenas de pessoas que estão experimentando momentos difíceis e dolorosos em suas vidas.

E estão precisando mais do que nunca de ouvir uma palavra de consolação.

A exortação é necessária, mas fazer uso do púlpito para chicotear as ovelhas, indiscriminadamente, é falta do espírito de consolação.

O Espírito Santo é o mesmo, Ele consolava no Antigo Testamento (SI 23.4; Is 51-12) e continua consolando na Dispensação da Graça (2 Co 1.4; 7.6).

O Dom de Profecia, portanto, serve para falarmos sobrenaturalmente aos homens, assim como o Dom de Línguas serve para falarmos sobrenaturalmente a Deus.
ERROS SOBRE O DOM DE PROFECIA

1. USAR A PROFECIA PARA GUIAR A IGREJA

A mensagem através do dom de profecia tem como finalidade: “exortação, edificação e consolação” (1 Co 14.3).

Portanto, não tem por objetivo guiar ou direcionar a administração da igreja local.

A Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, é o manual da Igreja e tem todas as orientações sobre a administração espiritual, humana e material da igreja cristã.

Vemos, em Atos 13.1-3, que, quando Deus quis enviar missionário, o Espírito Santo se dirigiu aos líderes, como Barnabé, Simeão (Níger), Lúcio de Cirene, Manaén e Saulo. Não se dirigiu a “um profeta” em particular.


2. USAR O DOM DE PROFECIA COMO UM ORÁCULO

Tendo em vista a finalidade da profecia, não é correto o crente só fazer as coisas se consultar um profeta.

Essa prática tem endeusado irmãos ou irmãs, a quem Deus deu o dom, para se tomarem verdadeiros “gurus” de determinadas pessoas.

Há exemplos de profetas, nas igrejas, cujo lar se transformou em lugar de verdadeira romaria.

Há, até os que estão profetizando para receber ofertas dos que lhe procuram.

Deus pode usar, e tem usado, homens e mulheres para consolar e orientar casos específicos de pessoas que precisam de uma palavra específica para eles.

Mas é preciso cuidado, porque a profecia é para o proveito da igreja e não de domínio particular.


3. USAR O DOM DE PROFECIA COMO FONTE DE DOUTRINA

É completamente errado e contraria a Palavra de Deus, pois a fonte por excelência de doutrina é a Palavra de Deus.

Portanto, nenhuma profecia pode acrescentar ou retirar o que já foi revelado nas Sagradas Escrituras.

Pois, quem o fizer, incorre no perigo de ser punido por Deus, (Ap 22.18,19).




4. USAR O DOM DE PROFECIA DE FORMA DESCONTROLADA


O dom de profecia deve ser usado, na igreja, com decência e ordem.

Diz Paulo: “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Co 14.39, 40).

A igreja em Corinto, como já vimos, possuía todos os dons, operando em seu meio.

Talvez por isso, houve que se achasse mais importante ou santo do que os outros que não possuíam dons, e achavam-se no direito de usar os dons como bem entendessem.

Por isso, o apóstolo exortou quanto à necessidade de ordem e decência no culto.

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