segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O DNA das Igrejas de Cristo 3 - "O Exercício dos Cinco Dedos"



"Fé, Arrependimento, Batismo, Perdão dos Pecados e o Dom do Espírito Santo – o 'Exercício dos Cinco Dedos'!”




Introdução à série de artigos “O DNA das Igrejas de Cristo”


Em virtude do fato que o Brasil estará sendo a sede da nossa Convenção Mundial em 2012, na cidade de Goiânia (GO), estamos dando início a uma série de artigos sobre a nossa identidade, ou seja, o DNA das igrejas com origem no Movimento de Restauração ou Movimento Stone-Campbell: Discípulos de Cristo, Igrejas de Cristo (a capella) e Igreja Cristã / Igreja de Cristo (Discípulos independentes). Minha oração é que eles venham a ser úteis na preservação da nossa identidade e do testemunho pela unidade da Igreja de Cristo.


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“Fé, Arrependimento, Batismo, Perdão dos Pecados e o
Dom do Espírito Santo – o 'Exercício dos Cinco Dedos'!”



Você conhece ou já ouviu falar no “exercício dos cinco dedos”? Não? Pois deixe-me falar sobre ele. Walter Scott (1796-1861) foi um dos grandes pioneiros do Movimento de Restauração (Igrejas de Cristo). Foi muito amigo de Alexander Campbell desde quando se conheceram em 1821. Além de professor e editor, Scott alcançou proeminência como evangelista. Ele criou o “exercício dos cinco dedos” que é usado nas Igrejas de Cristo em todas as gerações que se seguiram.


Conta-se que ao chegar em uma vila ou povoado, Scott tinha por hábito ir até a escola, se aproximar das crianças e perguntar simpaticamente se elas queriam aprender “o exercício dos cinco dedos”. Como a resposta geralmente era positiva, ele continuava dizendo:


“Levantem a mão esquerda. Agora comecem pelo polegar e repitam: fé, arrependimento, batismo, perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. Isso lhes ocupa os cinco dedos”.


Ele repetia o exercício várias vezes até que aprendessem. Depois mandava as crianças repetirem o "exercício dos cinco dedinhos" para seus pais em casa dizendo que um pregador estaria falando à noite sobre os "cinco dedinhos".


Com essa estratégia de evangelização e após um ano de trabalho incansável, o número de membros das igrejas da Associação Batista de Mahoney (naqueles tempos os Campbell estavam associados às Igrejas Batistas, o que durou até cerca de 1830), que estavam mais abertas aos "Reformadores" (“A Reforma Atual” era como o nosso Movimento era conhecido bem no início), havia multiplicado e seis novas igrejas haviam sido abertas. Confira o que o Dr. B. J. Humble escreveu sobre este período das igrejas da "Western Reserve" localizada em Ohio: “Fé, arrependimento, batismo, remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo – este era o ‘Evangelho Restaurado’ na pregação de Scott. O resultado foi um grande avivamento entre as Igrejas”.


O exercício dos cinco dedos para hoje


O Evangelho restaurado! Essa é a minha convicção! Essa é a tradição do Movimento de Restauração! Fé, arrependimento, batismo, perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. Coisas desse tipo fornecem o padrão das Igrejas de Cristo! Aqui cabem algumas perguntas. A Igreja de Cristo onde você congrega, prega o evangelho de Cristo em sua plenitude? Ela está comprometida com o DNA das igrejas do Novo Testamento e do nosso Movimento? Seus líderes conhecem e ensinam a história das Igrejas de Cristo? Não? Por quê? (confira as características das Igrejas de Cristo no artigo “Introdução à História do Movimento de Restauração de Stone e Campbell” no site www.movimentoderestauracao.com e compare com a sua congregação).


Sinceramente, por sua simplicidade, creio que o “Exercício dos Cinco Dedos” pode nos ajudar a compreender e também compartilhar as boas notícias do Evangelho de Cristo. Esta técnica pode ser usada com muita eficiência tanto pelos mais jovens como pelos mais velhos. Que tal experimentar? Então façamos como o evangelista Walter Scott pedia. Levante sua mão esquerda e comece pelo dedo polegar:


1. Dedo Polegar: Fé (cf. João 3.16 e memorize-o)


A fé é dom de Deus (Ef 2:8) e vem pelo ouvir a Palavra (Rm 10:13-15,17; At 4:4). É a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem (Hb 11:1). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11:6). Fé é a obediência em ação (Tg 2:14-26) e deve ser confessada para a salvação (Rm 10:9-10; Mt 10:32-33; At 8:36-37). A fé traz segurança, paz ao coração do crente, descanso e gozo (Rm 8:16; 1Jo 4:13; 5:10; Jo 14:1; Mt 6:25-34; Rm 5:1; Hb 4:3; 1Pe 1:8). Pela fé somos enriquecidos pelo Espírito (Gl 3:5,14), santificados (At 26:18), guardados (1Pe 1:5; Rm 11:20), estabelecidos (Is 7:9), curados (Tg 5:15; At 14:9), andamos (2Co 5:7), superamos os desafios da vida (Rm 4:18-21; Hb 11:17-19,27). É absolutamente essencial à salvação (Jo 3:16; 8:24; 1Pe 1:18-21; At 10:43; 15:9; 16:30-31; Rm 6:17-18).


2. Dedo Indicador: Arrependimento (cf. Atos 3.19 e memorize-o)


O arrependimento foi o ápice da mensagem de João Batista (Mt 3:2; Mc 1:15), Jesus Cristo (Mt 4:17; Lc 13:3-5), Apóstolos (Mc 6:12), Pedro (At 2:38; 3:19) e Paulo (At 20:21; 26:20). É produzido no homem pela Palavra de Deus (Lc 16:30-31), pregação do Evangelho (Mt 12:41; Lc 24:47; At 2:37-38; 2Tm 2:25), bondade de Deus para conosco (Rm 2:4; 2Pe 3:9), correção do Senhor (Ap 3:19; Hb 12:10-11), crença na verdade (Jn 3:5ss), uma nova visão de Deus (Jó 42:5-6). Consiste em mudança de idéia em relação ao pecado, a Deus e a si mesmo (Rm 3:20; Sl 51:3,7; Jó 42:56; Lc 15:17-18), mudança de sentimento (Sl 51:1-2; 2Co 7:9-10), mudança da vontade (Mt 3:8,11; At 5:31; 20:21; Rm 2:4; 2Pe 3:9). São frutos do arrependimento: confissão dos pecados (Sl 32:5; 51:3-4; Lc 15:21; 1Jo 1:9), reparação dos erros cometidos contra alguém (Lc 19:8) e é absolutamente essencial à salvação (Lc 13:2-5).


3. Dedo Médio: Batismo (cf. Romanos 6.4 e memorize-o)


O batismo é um mandamento perpétuo ordenado pelo Senhor Jesus (Mt 28:19), que ao ser batizado por João nos deixou o exemplo (Mt 3:5-6,13-17). No Novo Testamento batismo é imersão. Isso fica evidenciado pelo fato do batismo requerer água o suficiente para o candidato entrar e sair (At 10:47; Mt 3:13; Jo 3:23; Mt 3:5-6; At 8:36-39; Mc 1:10). Quem deve ser batizado? Quando? A Bíblia responde: Os crentes em Jesus (Mc 16:16; At 18:8), arrependidos dos seus pecados (At 2:38), imediatamente após a conversão (At 2:41; 8:12,35-38; 9:9,17-18; 10:44-48; 16:14-15,30-33). E o que diz o Novo Testamento sobre o propósito do batismo nas águas? Confira as seguintes passagens que relaciona aceitar Jesus com fé, arrependimento dos pecados e batismo nas águas com a salvação (At 2:38; 22:16; Mc 16:16; Rm 6:1-6; Cl 2:12; Gl 3:26-27). O batismo é uma condição para o recebimento do dom do Espírito Santo (At 2:38) e é parte da resposta do homem ao chamado de Deus para a salvação.


4. Dedo Anelar: Perdão dos Pecados (cf. Romanos 8.1 e memorize-o)


O perdão dos pecados é algo absolutamente tremendo. É o perdão da pena pelo pecado (Rm 4:7-8; 5:12-14; 6:23; 2Co 5:19) e o cancelamento da condenação (Rm 8:1,33-34). Traz paz com Deus (Rm 5:1; Ef 2:14-17), restabelecimento do favor de Deus (Rm 4:6; 2Co 5:21; 1Co 1:30), conduz a uma vida justa (Fp 1:11; 1Jo 3:7; Tg 2:14,17-26). Dá certeza do livramento da ira vindoura (Rm 5:9; 1Ts 1:10) e também dá a certeza da glorificação (Rm 8:30; Mt 13:43; Gl 5:5).


5. Dedo Mínimo: O Dom do Espírito Santo (cf. Atos 2.38 e memorize-o)


Um dom é um presente, uma dádiva, algo que foi dado. O dom do Espírito Santo é um presente de Deus aos convertidos, pois segundo Atos 2:36-38 a fé em Jesus como Senhor e Cristo, o arrependimento dos pecados, o batismo nas águas e o consequente perdão dos pecados são pré-condições para recebê-lo. O Novo Testamento também mostra o dom do Espírito Santo sendo conscientemente desejado, buscado e recebido (At 1:4,14; 4:31; 8:14-17; 19:2-6). Ele não deve ser um dom automaticamente concedido aos crentes, ou seja, ele não pode ser confundido com a habitação do Espírito, como crêem muitos. Confira a seguir outros termos bíblicos para esta experiência, além de “o dom do Espírito Santo”: ficar cheio do Espírito Santo (At 2:4; Ef 5:18), receber o Espírito Santo (At 8:17; 10:47), o Espírito Santo descendo sobre (At 10:44; 11:15), batismo com o Espírito Santo (Mt 3:11; At 1:5), ser derramado o Espírito Santo (At 2:17-18; 10:45).


Conclusão


Nós fazemos parte da Igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo por toda a terra. E dentro desta irmandade universal a nossa comunhão, que tem DNA e identidade própria, é chamada para pregar o Evangelho em toda a sua plenitude e a unidade do povo de Deus. Alguns dos nossos mais antigos lemas refletem muito bem isso:


“Não somos os únicos cristãos, mas simplesmente cristãos”.


“Nenhum credo além de Cristo. Nenhum livro além da Bíblia”.


Portanto, devemos continuamente olhar para o passado, para as nossas tradições bíblicas, apostólicas e históricas. Compreender como as nossas tradições nos moldaram e ao mantê-las estaremos, dentro do mundo religioso e globalizado preservando o nosso DNA, a nossa identidade. Sem isso deixaremos de ser “Igreja de Cristo”, ainda que tenhamos mantido esse nome ou tenhamos uma gênese no Movimento que a originou.

O Movimento de Restauração é contínuo, ele não pode parar. Há entre nós muitas coisas que precisam ser deixadas e outras que precisam ser restauradas. Tenhamos o mesmo espírito que tiveram os pioneiros. Para concluir, faço minhas as palavras do apóstolo Paulo:


“Portanto, irmãos, permaneçam firmes e apeguem-se às tradições que lhes foram ensinadas” (2Tessonicenses 2.15).


Essa é a minha missão e apelo dentro da nossa comunhão: “Permaneçam firmes e apeguem-se às tradições que lhes foram ensinadas”. Não podemos vacilar, somos do Movimento de Restauração, somos das Igrejas de Cristo! Temos um DNA e vamos preservá-lo! Podemos contar com você?






Fontes e créditos:


A imagem postada acima foi copiada da “The Encyclopedia of the Stone-Campbell Movement” e é uma cortesia da Disciples of Christ Historical Society para a obra citada. Originalmente foi publicada em uma mini-história da Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) em 1974.


SOTO, Fernando. La Reforma Presente : Literature and Teaching Ministries, 1997, pág. 89.


HUMBLE. B. J. “La Historia de La Restauración” - - disponível na Internet, pág. 17.


FOSTER, A. Douglas. The Encyclopedia of the Stone-Campbell Movement. Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 2004. pages 338-339.

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