sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Podem as mulheres ser pastoras?
O papel da mulher na Igreja de Cristo é um assunto muito importante. Diferenças neste assunto têm dividido muitas igrejas e por isso não deve ser menosprezado. Sabemos que existem várias interpretações dos textos bíblicos e muitas opiniões diferentes quanto a este tema. Porém, esse assunto doutrinário importantíssimo está na categoria de assuntos não-essenciais, ou seja, de opinião e não devemos nos dividir por isso.
Eu entendo que Deus criou homens e mulheres iguais em importância, pois ambos são dotados da imagem divina (Gn 1:26-31) e reconheço que a Igreja não tem ensinado e praticado essa igualdade, esquecendo que as mulheres têm acesso a todas as bênçãos da salvação (At 2:17-18; Gl 3:26-28) e o elevado grau de respeito e dignidade que Jesus Cristo dispensou a elas (Grudem, 786).
No Novo Testamento existem dois textos-chave sobre esse assunto. Em 1Timóteo 2:11-14 parece que o apóstolo está se referindo ao culto público da igreja:
“11 A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. 12 Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. 13 Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. 14 E Adão não foi enganado, mas sim a mulher que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora”.
Neste contexto, as mulheres não têm permissão para ensinar nem ter autoridade sobre o homem.
O ensino e a autoridade são funções exclusivas de um pastor, presbítero ou bispo e é isso que Paulo está proibindo aqui. Aos pastores são requeridos os deveres de supervisão, ensino, pregação, direção, pastoreio e proteção da igreja contra as heresias. Portanto, as mulheres não podem ocupar oficialmente a função pastoral sem colidir com esta passagem doutrinária.
E isto também está baseado na ordem da criação, nos princípios estabelecidos por Deus para o homem e a mulher antes da queda e a entrada do pecado no mundo. Ao homem coube a liderança na família e foi a quebra deste princípio por Eva, que enganada por Satanás inverteu os papéis de masculino e feminino, pecou e conduziu seu marido ao pecado se tornando transgressora (Grudem, 787).
A outra passagem fundamental na nossa visão do papel da mulher na igreja também foi escrita por Paulo, só que para os irmãos na cidade de Corinto. Em 1Coríntios 14:33-36 o apóstolo, inspirado pelo Espírito Santo, está se referindo novamente à uma função exclusiva dos pastores:
“33 Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz. Como em todas as congregações dos santos, 34 permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes permaneçam em submissão, como diz a Lei. 35 Se quiserem aprender alguma coisa, que perguntem a seus maridos em casa; pois é vergonhoso uma mulher falar na igreja. 36 Acaso a palavra de Deus originou-se entre vocês? São vocês o único povo que ela alcançou?”
Observe no contexto o versículo 29 que diz assim:
"Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e outros julguem cuidadosamente o que foi dito".
Parece que o contexto aqui é a avaliação e julgamento das profecias proclamadas publicamente na igreja.
Assim, entendemos que 1Coríntios 14:33b-36 está proibindo as mulheres de fazerem uma avaliação e julgamento das profecias na congregação, que seria uma função de autoridade sobre toda a igreja local e isto é exclusivo dos pastores.
Paulo não está proibindo as mulheres de falarem na igreja, pois em 1Coríntios 11:5 ele permite que elas falem (profetizem) na reunião pública da igreja:
“E toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois é como se a tivesse rapada”.
As filhas de Felipe profetizavam na Igreja de Cristo em Cesaréia (Atos 21:8-9):
“8 Partindo no dia seguinte, chegamos a Cesaréia e ficamos na casa de Felipe, o evangelista, um dos sete. 9 Ele tinha quatro filhas virgens, que profetizavam”.
Da mesma forma, as mulheres também profetizavam na Igreja de Cristo em Corinto.
Os ensinos paulinos em 1Timóteo 2 e 1Coríntios 14 não são incoerentes, pois nestes dois textos ele está preocupado em manter a liderança masculina (pastores, presbíteros ou bispos) no ensino e governo da igreja (Grudem, 788). Portanto, as mulheres não podem ser pastoras, presbíteras ou bispas na Igreja de Cristo.
Porém, o Senhor nosso Deus concedeu às mulheres dons para o exercício dos ministérios, liderança dos grupos de cristãos nas casas (células), obras missionárias, entre outras atividades na igreja. No culto público, com a permissão dos presbíteros (bispos ou pastores), elas também podem fazer uma oração, cantar, testemunhar, profetizar, ministrar uma palavra e etc.
Na minha opinião, as igrejas que ordenam mulheres para o ofício pastoral perdem pontos no quesito "pureza da igreja", mas isso não quer dizer que elas deixem de ser igrejas verdadeiras e que a nossa comunhão deva ser rompida. Pelo contrário, a unidade deve sempre ser preservada.
Graças a Deus, em nosso Movimento, a autonomia das congregações locais é inviolável. Ninguém e nenhuma associação, ministério ou instituição tem o direito de intervir na igreja em uma determinada localidade geográfica. Se uma igreja quer ordenar ou não as mulheres para o ministério pastoral, diaconal ou qualquer outro cargo ou função, que assim faça no exercício da sua liberdade e independência.
"Interpretações e deduções das Escrituras, embora podendo ser verdadeiras, não se podem transformar em mandamentos e ordenanças da Igreja. Opiniões divergentes quanto a tais interpretações não se deverão transformar em empecilho para se comungar na Igreja", assim decidiram os obreiros das Igrejas de Cristo no Planalto Central do Brasil em 1987 (As Marcas das Igrejas de Cristo).
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