terça-feira, 15 de setembro de 2020

Minha visita ao Inferno!

 


Eu era um anjo. Abri os olhos e era um anjo. Portava um bastão, bem parecido com um cajado. Eu e mais 3 anjos, a saber, os anjos do Norte, do Leste e do Oeste, começávamos a jornada de descida para os níveis inferiores do inferno. Nossa missão era acompanhar o recém falecido Messias no retorno do nível mais baixo do inferno. A Fornalha. Ele fora buscar as chaves da morte e do inferno que ficavam na fornalha. Fomos descendo os níveis e a medida que desciamos podíamos ver as almas dos condenados. Não tinha nada demais. Eram apenas pessoas miseravelmente pobres e famintas que tentavam nos tocar, pedir ajuda, conseguir algo para comer. Nossa missão não era alimenta-las. Então apenas as afastava-mos. Fomos descendo e a medida que desciamos o calor aumentava. Começaram a aparecer nos níveis abaixo pessoas mais agressivas que nos atacavam. Nos defendiamos delas com nossos bastões e as afastava-mos. Elas não podiam nos causar dano. Mas atrapalhavam nossa jornada. Finalmente chegamos a beira do fosso. A entrada do último nível do inferno, a fornalha. Era um buraco no solo com cerca de cinco metros de diâmetro. O calor e a luminosidade que vinham do fosso era muito grande. No fosso ficam os piores tipos de seres humanos. Os assassinos, os estupradores, os pedófilos, os abusadores em geral, enfim... Tutti buona giente. Os piores dos piores ficam lá. Cobrindo o fosso um assoalho de madeira rústica, bem rústica mesmo,  diria até velha. Derepente enxergamos por entre as frestas do assoalho subindo o corpo espiritual do Messias. Subia deitado na horizontal como se levitasse. Sua luz era maior que a das chamas, no entanto não feria nossos olhos que eram confortados por ela. A madeira do assoalho se tornou translúcida, para permitir a passagem do corpo espiritual do Cristo, quando ele se reposicionou no ar e passou da posição horizontal para a vertical, se encaminhando para um túnel ao lado da saída do fosso, que até então não havíamos notado por baixo da madeira do assoalho. Com a luz do corpo do Messias o túnel se iluminou. Aí compreendemos que embora ele emergisse do fosso, as chaves estavam em algum lugar no túnel. Antes que ele chegasse no início do túnel, dois anjos surgiram e o ampararam gentilmente no pouso. Ficamos um pouco contrariados. Estávamos ansiosos por encontrar o Messias em corpo espiritual  glorificado antes da ressurreição. Mas pacientes aguardavamos o retorno do túnel. As informações do que fazer chegavam às nossas mentes sem o uso de palavras.

Quando então o calor da entrada do fosso se intensificou. A luz amarelo dourada que saía das chamas se intensificou. Não temíamos a presença de Satanás, mas o aumento do calor era desconfortável. Poderia haver mais luta. A madeira do assoalho na entrada do fosso começou a  ficar translúcida e...

 ... minha esposa levantou para ir ao banheiro e me acordou. Meus sonhos são extremamente reais. Cores, cheiros, sensações, detalhes visuais... Tudo muito real e sensorial. Dava pra sentir o calor. Sempre acordo de alguns sonhos muito impressionado. Este foi um deles. Quero esclarecer apenas algumas coisas:

Primeiro: foi apenas um sonho. Não existe nada de real nele. Mas um sonho impressionante assim merece ser compartilhado. 

Segundo: o modelo de inferno visto no sonho simplesmente não existe. Foi inventado na idade média para deixar as pessoas apavoradas e coagi-las a comprarem indulgências plenárias. O perdão dos pecados comprado com dinheiro e ouro bem físicos. 

Terceiro: o sonho corretamente chama o chefe dos demônios de Satanás. Nunca se chamou Lúcifer. Um erro de tradução de são Gerônimo ao escrever uma tradução das Escrituras onde deixou de traduzir lúcifer, que é uma expressão que significa "a brilhante estrela da manhã". Mas lúcifer não é nome próprio. Nunca foi. Um erro de tradução gerou um erro teológico abissal que perdura até hoje na cultura popular patrocinado pelo maniqueísmo e pelo místicismo. Dados esses esclarecimentos, espero que meu sonho, não seja usado para perpetuar medo, ignorância e misticismo. Não estive no inferno, não sou um anjo, e este modelo de inferno como um lugar real simplesmente não existe. Ponto. É apenas um sonho. Dito isto, desejo um bom dia a todos. Apreciem esse belo texto como isso que ele é. Um belo texto. Que esse texto não seja usado para perpetuar medo e ignorância.  Que o pai das luzes lhes conceda um dia abençoado. Até a próxima.

Do amigo, Ceroni Cunha.

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