sábado, 20 de maio de 2017

Graça


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Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Graça (desambiguação).
O vocábulo Graça provém do latim gratia, que deriva de gratus (grato, agradecido) e que em sua primeira acepção designa a qualidade ou conjunto de qualidades que fazem agradável a pessoa que as têm. No começo do século XX, costumava-se dizer: "qual é a sua graça?" para perguntar "como você se chama?". Este costume, que ainda hoje se mantém em alguns lugares, vinha da cerimônia de batismo dos católicos, na qual o indivíduo se torna cristão e, segundo a doutrina católica, recebe a graça de Deus e, junto com a graça, o nome. A palavra graça provém também de grátis, derivado do latim gratiis (pelas graças, gratuitamente) e gratificar, que desde o século XV equivalia a agradecer.


Sentido teológico da palavra[editar | editar código-fonte]

Graça é um conceito teológico fortemente enraizado no Judaísmo e no Cristianismo, definido como um dom gratuito e sobrenatural dado por Deus para conceder à humanidade todos os bens necessários à sua existência e à sua salvação. Esta dádiva é motivada unicamente pela misericórdia e amor de Deus à humanidade, logo, movida por Sua iniciativa própria, ainda que seja em resposta a algum pedido a Ele dirigido. E também por esta razão, a Graça é um favor imerecido pelo Homem, mas sim fruto da misericórdia e amor divinos.
Dependendo das correntes teológicas cristãs, existem aqueles que defendem que a graça é irresistível; outros que a graça é somente para algumas pessoas escolhidas e totalmente predestinadas por Deus; e há ainda aqueles que acreditam que a graça é universal (ou seja, predestinada para toda a humanidade), mas que pode ser recusada livremente pelo Homem.

Na concepção católica[editar | editar código-fonte]

Segundo a doutrina da Igreja Católica, a graça é um dom universal e "socorro gratuito que Deus nos dá" para sermos "capazes de agir por amor d’Ele", para satisfazermos as nossas justas necessidades espirituais ou materiais e também para tornar-nos filhos de Deus e "participantes da natureza divina, da Vida Eterna" [1]. Aliás, "a própria preparação do homem para acolher" livremente a graça divina "já é obra da graça" e da predestinação (não-absoluta) de Deus. Existem vários tipos de graça, como por exemplo:
  • a graça habitual ou santificante (considerada também a graça primeira): é a origem, o início e a responsável pela justificação, conversão e santificação dos homens e por isso "nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no Baptismo". Por outras palavras, é o princípio e a estrutura da vida sobrenatural, que nos faz participantes da natureza divina, templos do Espírito Santo, filhos adoptivos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, justos e agradáveis a Deus e capazes de merecer sobrenaturalmente e de penetrar na intimidade do próprio Deus [2]. Com esta graça, são concedidas ao Homem as capacidades de operar sobrenaturalmente, a saber: as virtudes infusas ou sobrenaturais e os dons do Espírito Santo. O seu exercício, impulsionado pelas graças actuais, faz parte dos principais meios de santificação. O progresso neste exercício leva aos frutos do Espírito Santo e às bem-aventuranças. A graça santificante perde-se pelo pecado mortal, mas não pelo pecado venial ou pelas penas temporais devidas ao pecado.
  • as graças actuais: são "dons circunstanciais" atribuídos especialmente ao Espírito Santo ou "intervenções divinas na vida do homem", para que ele possa continuar a acolher e colaborar com a graça e prosseguir o seu caminho de santificação. A graça actual leva o pecador à conversão e a pessoa em estado de graça à procura e ao exercício dos meios de santificação. Esta graça pode ser “eficiente” se uma vez acolhida produz o seu efeito, mas é “suficiente” quando, recusada ou não aproveitada, fica sem produzir efeito.
  • as graças sacramentais: são dons que o cristão recebe por meio dos sete sacramentos da Igreja e que pode ajudá-lo "a colaborar na salvação dos outros homens, bem como com o crescimento da Igreja, Corpo de Cristo";
  • as graças especiais ou carismas: são concedidos especialmente pelo Espírito Santo para servir "o bem comum da Igreja", sendo exemplos disso o dom de línguas e "as graças de estado, que acompanham o exercício dos ministérios eclesiais e das responsabilidades da vida" de cada cristão [3].
A Igreja Católica defende que a justificação (acção misericordiosa e gratuita de Deus de conceder a salvação à humanidade), e, portanto, também a graça, podem ser recusados livremente pelo Homem porque "Deus age de forma livre, concedendo a graça, e a resposta do homem também deve ser livre, pois «a alma só pode entrar livremente na comunhão do amor»" [4]. Por isso, pode-se dizer que "a concretização da salvação de cada pessoa depende também da sua adesão de e caridade ao Salvador", estabelecendo-se assim uma colaboração indissociável entre a graça e o livre-arbítrio do Homem de escolher entre a redenção e a perdição. Daí o facto de existirem pessoas que, depois de morrerrem, vão para o Inferno, em vez de alcançarem a plena santidade, que é o desejo e a vontade de Deus para todo o género humano [5].

Estado de graça[editar | editar código-fonte]

Uma pessoa que está em estado de graça vive na amizade e amor de Deus e, se nela morrer, vai para o Céu, pela graça santificante. Por outras palavras, é aquele que não está manchado pelo pecado mortal. Mas, estar neste estado não quer dizer que não tenha pecados veniais ou penas temporais devidas ao pecado para serem purificadas, necessitando por isso das indulgências e, após a morte, da purificação no Purgatório.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Ir para cima Catecismo da Igreja Católica (CIC), n. 1996
  2. Ir para cima Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), n. 422
  3. Ir para cima Ibidem, n. 424
  4. Ir para cima CIC, n. 2002
  5. Ir para cima A subsecção Concepção católica, incluindo várias citações, foram baseadas no artigo Graça e Justificação, do Veritatis Splendor
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